Aparentemente hoje é um grande dia!, exclama o Sr. Bentley. Os pretinhos vão dançar com os lusinhos, hop-hop, lari-lariii, hop-di-dup-hop!!
Eu gosto de pretinhos, diz o senhor Bentley com a voz cavernosa que se aloja no cérebro, voz radialista, gótica.
E de proto-pretinhos, continua a voz.
É gajo racista, já se vê, mas ele pensa que não. Está seguríssimo que não.
- Um preto é um preto é um preto - assegura. - Deixará de ser preto por lhe chamarmos... Africano? Europeu? Lisboeta? NEGRO?!
Ele acha que não.
Estabelecemos que o PNR já quis o Sr. Bentley para porta-voz, mas não deu em nada. O Enraba-Passarinhos roubou pedras da calçada e fez pontaria às carecas luzentes dos wannabe luso-nazis e foi giro. Foi bonito de ver. Muita cabeça partida, o vermelho sanguíneo a colorir o passeio, a roupa, as cabeças de bolas de bilhar.
- Quiiiinhentas e seteceeenntas e nove! - diz, do alto, ao escarrar na criancinha que faz uma fita nos braços da mãe: queria levar o escorrega para casa e recusava descolar a garra infantil da borda.
- Ó! - disse a mamã e fugiu a toda a brida para o carro (a gasolina, reparou ele. Negro, pequenote, com uma cadeirinha no espaço traseiro exíguo).
A quantidade de escarros que ele desperdiçou em criancinhas. Anda com vontade de gastá-los nas cabeças luzentes luso-nazis, colori-las de verde e amarelo, material biológico tóxico. Fazia uma instalação, um happening artístico - luso-nazis escarrados, braços ao alto, alinhados, autor: Sr. Bentley, o Sodomizador-Mor de Pássaros. Ah, e as mamãs, as putinhas das mães dos nazis, também elas! Sim. As... “vertically challenged mummies”. A chorar. Ou não.
Mas cada vez que vê a puta de uma criancinha lá vem o arranco do fundo da garganta, impossível contê-lo e PAF - aterra na bochecha do crianço. Ou nariz. Ou olhinhos. Às vezes orelhas. Uma vez errou e foi na garganta.
O Sr. Bentley envergonhou-se com a falta de pontaria. Regressou cabisbaixo a casa. A ratazana vizinha perguntou:
- Então, orelha murcha?
- Preciso de cirurgia laser - choramingou Bentley. - A vista não é o que era antigamente.
Mas hoje, dia fabuloso!
Vai à praia.
E, bandeirolas em riste, (só lhe falta o touro, uma boa cornada não lhe fazia mal nenhum), vê um GNR ao fundo. Sozinhito.
- Hihihi.
Rapta o desgraçado do GNR.
Transporta-o nos ares, cabo do chapéu acoplado à gola do sobretudo, e os dois braços a segurar o GNR gorducho pelos sovacos.
- Dieta não te fazia mal, pá.
- AAAAHHH! LARGA-MEEEEE!
- Continua a barafustar que é o que eu faço.
Na praia larga-o aos trambolhões e em seguida põe-se a arrastar malta para a água.
- Agora MULTA! - exige Bentley ao gorducho, segurando-o pela cintura das calças.
- Vá lá, meu cabrão: MULTA. Multamultamultamultamulta.
E ele multa. Mas há um senhor doutor político deputado fiscal-de-linha engenheiro que mostra a declaração passada pela Junta de Freguesia e assinada pelo médico de família do Centro de Saúde que o isenta de multas balneares.
Tem de ir ao banho a qualquer hora, com ou sem bandeira hasteada, por razões de saúde. Quais, não especifica o dito atestado.
- Eh lá, eh lá! - gritam os colegas do GNR gorducho que acorrem em auxílio.
O Sr. Bentley plana para cima e assiste à razia de multas passadas pelos colegas (o gorducho entretanto sentou-se no areal e chorou, olhando as calças molhadas e os ombros encolhem-se cada vez que se atreve a mirar o céu).
- Eu tenho um atestado, um atestado - diz o estrelicadinho senhor doutor deputado. Deixam-no em paz. A este nem exigem documentos: BI, carta de condução, número de contribuinte. Seguro do carro. Atestado de virgindade da avozinha. Impressão digital do nariz, orelha e queixo. Aos outros banhistas, Que-Não-Eram-Deputados, obrigam a apresentação de documentos, alguns têm de caminhar até ao carro.
- Ah... - diz o senhor Bentley inspirando a maresia. As ondas ribombam anímicas, desfazendo a escassa espuma branca no areal.
- Caralhinho... - diz porque há muito não profere palavrões e a malta esquece-se, pá.
A malta esquece-se.
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