sexta-feira, maio 02, 2003


Outro trecho do livro que ando a escrever.

"Há que viver o que se deseja no momento em que se o deseja.

- E se alguém nos apanha!
- Chiu. Cala-te.
- Mas...!
- Chiu! Ninguém nos apanha. Anda.
O Paulo da Boca Aberta era um mariquinhas pé de salsa, fosga-se. Entre escolher viver uma grande aventura e ver a TV Rural, escolhia a tortura do Engenheiro Veloso. Fosga-se, Paulo, medricas! Mariquinhas! “E se dizem à minha mãe!”, tremelicava. “Ela bate-me!” Maricas... tinha medo de tudo. Não podia sair e ir brincar, correr, jogar à bola, às escondidas, à apanhada, podia sujar-se, cair no chão e esfolar os joelhos e depois a mãe batia-lhe e não o deixava sair outra vez. Não podia subir às árvores, comer figos por causa do cieiro, não podia ir apanhar caracóis porque se molhava e sujava todo e o trabalhão que dá limpar-te a roupa, vocês fazem de mim escrava, tu e o teu pai!, resmungava a mãe dele, que era um palito, uma trinca-espinhas, mas má, bolas, mesmo má.
Coitado do Paulo da Boca Aberta. Não podia fazer nada."

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