sábado, dezembro 31, 2005
- Afinal de contas não é tão badalhoco como eu pensava.
Eu:
- Espere, vá lendo.
Ele, a rir-se ainda:
- Ouve lá, não há aqui nada plagiado?!
Eu:
- Não.
Fico muito contente por olharem duas vezes para mim depois de terem lido o livro e dizerem:
- Não pode ser! Não foste tu que escreveste isto!
http://www.terra.com.br/informatica/ajuda/estiloweb/webdesign/manual10.htm
Para futura referência: Tabela de acentos(Os caracteres especiais da tabela ISO 8859 Latin-1).
sexta-feira, dezembro 30, 2005
Só agora é que li isto (está na capa do meu livro).
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João Seixas in Revista Os Meus Livros
«Sr. Bentley, o Enraba-Passarinhos, irá provocar incontroláveis convulsões aos amantes das ditas avezinhas e a qualquer incauto que ainda não tenha compreendido as verdades do mundo.
É um clister moral, uma purga mal-pensante, um insulto ao bom gosto, um gosto pelo insulto, um compêndio de palavras feias e um espelho de Portugal politicamente correcto em que o leitor habita. O Sr. Bentley não conhece travão e nada tem de sagrado.
Mais do que uma pedrada no charco, é um verdadeiro pontapé nas penduricalhas miudezas deste pântano à beira mar encalhado; portanto, leitor, acomode a coquilha sobre as jóias da família, proteja os dentes, e prepare-se para a porrada, porque o Sr. Bentley é um peso-pesado.
Um Atlas que carrega com alegria sobre os ombros tudo o que de mais abjecto, medonho, mesquinho, estúpido e medíocre os portugueses têm... e, por isso, é um verdadeiro encanto. Pensando bem, caro leitor, tire daí a mãozinha; este livro não é para si!»
quinta-feira, dezembro 29, 2005
Lista de sítios onde a podem adquirir.
Ou, se preferirem, podem assiná-la.
Tenho lá um conto meu :) Mesmo na última página. Deixo aqui uma parte.
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Quando órfãos na Índia, paupérrimos meninos de rua brasileiros ou tailandeses o abordam de mão ossuda estendida, encardidos, pestilentos, os trapos rotos a cobrir o corpo magro, esquelético e doente, expondo mazelas nos joelhos e braços e pulgas que se passeiam, desenxabidas, no couro cabeludo, de feridas velhas e frescas a enxamearem o rosto, o senhor Bentley comunica-lhes, numa mansa secura:
- Olhem lá, já não pode um homem, olhem lá. Eu não tenho filhos, porque raio hei-de aturar os filhos dos outros? Eu não vos pari. Vá lá, andor, andor. Não pode um homem passear descansado – e afasta-se vagarosamente sem pingo de vergonha ou piedade humana. Crê ser essa ausência a prova confirmada da sua Iluminação.
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Para conhecerem novas patifarias do Senhor Bentley, saber quem foi a Primeira Vidente de Fátima e o que raio fará na Alemanha, terão de ler o resto :p
quarta-feira, dezembro 28, 2005
O candidato a escritor procura o guru que vive no cimo de uma alta montanha. O candidato, rapazote dos seus vinte e sete anos, vai ao topo em busca de conselho.
Como Ser Um Escritor.
O guru já está mais farto destes gajos, só os que não são escritores é que o procuram, os escritores mêmo à séria já sabem aquilo e não vão ter com ele de modo que não tem a companhia de semelhantes, mas de rapazotes de bibe, bebés de fralda e chupeta a dar a dar. Merdinha de vida.
- Como ser um escritor? - pergunta o rapazote e senta-se de pernas cruzadas à frente do velho de túnica encardida e barbas brancas labirínticas a atiçar o fogo.
“Lá vem outro cabrãozinho foder-me o juízo.”
- Simples - diz erguendo-se e andando à volta do lume e do rapazola, certamente gestor de uma merda qualquer, uma Empresa de renome cujo trabalho lhe ocupa dez, doze horas diárias, contando idas e voltas, e escreve “umas coisas” nos “tempos livres” ou, pior, nos “tempos mortos”.
- Pára de olhar para os outros. Começa a olhar para ti. Eu repito, Pára De Olhar Para Os Outros e olha para ti, para dentro de ti, para o interior, mesmo o centro da tua divina chama. A chama desperdiçada por deus ao dar-ta.
- Mas... - diz o rapaz, timidamente.
E depois embarca num longo discurso, com grandes gestos de mãos para acentuar a grandeza do que diz, melhor: para se associar à grandeza dos Antigos e Presentes, que cita. A voz altera-se, tem um vozear de quase homem quando fala nos Grandes Escritores da História, os gestos são de político de bancada. É isso mesmo o que ele é: político de bancada que se confina às palavras alheias e não passa ao acto de construir as suas. E o guru sabe porquê: por sabê-las menores, não merecem estar lado a lado com os Grandes Escritores da História (Antigos e Presentes, Antigos e Presentes). A sua menoridade insultaria a grandiosidade dos outros.
- A única coisa que insulta seja o que for, mas que primeiramente te insulta a ti é a falta de colhões, a falta de coragem - proclama o guru, os punhos atrás das costas, recordando os passos de bailado do último combate de pugilismo a que assistiu pela tv cabo.
- Mas os Grandes, os Grandes! Como escrever depois deles! Como escapar à sua sombra! - objecta o moço, sorrindo com entusiasmo. “Estás mesmo com vontadinha de lhes escapar à sombra, nota-se.”
- Simples: não há sombra. Não há sombra - diz o guru ao baixar-se.
- Não seria melhor esperar - diz o rapaz, confuso e deixando de sorrir - que eu cresça e viva mais? Não terei de Viver e Aprender mais?
- Uma criança pode tornar-se escritor porque já experimentou um leque dilatado de emoções humanas – explica. - Concentra-te nos sentimentos, toca a alma dos leitores como se tocasses um violino, manipula-os, fá-los chorar e rir, odiar e amar, ter pena, compaixão, inveja, ciúme. São barro nas tuas mãos.
- Mas... - começa o rapazote, todavia cala-se e olha as pedras, os gestos grandiloquentes mortos, as mãos, mudas e pálidas, moribundas no colo. São longas e brancas, de tocar piano. Um desses rapazotes que, à beira dos trinta, têm ainda vivas as certezas adolescentes só nas coisas erradas. Apuraram-nas. Têm grandes discussões sobre os Grandes Autores da Actualidade, de Portugal, do Mundo, sentem-se menos do que os Outros, perguntam-se como poderão alguma vez escrever se os Outros já escreveram Tudo? São Medíocres, absolutamente medíocres, Thot, o deus da escrita egípcio, devia erradicá-los da terra cada vez que tentam construir a frase perfeita. O melhor é esperar mais um tempo, viver mais, ser Maduro, aguardar a Inspiração a meio da noite, sim, ou de manhã quando o despertador os acorda a meio de um sonho. Esperar, esperar, sobretudo não escrever nesse interregno de espera. Um Escritor faz-se nas Esperas da Não Escrita, pensam os rapazolas com pretensões literárias. E depois, na pausa sabática que lhes durará a inteira vida, fazem o corte e a costura dos Outros, os Menores, os que se Atreveram a Escrever Apesar de Medíocres! Como podem conspurcar a terra com tais livros? Eu só leio os clássicos, anunciam num trejeito de desprezo e talvez tentem fumar o charuto enquanto o dizem porque há uma aura literata no fumo abençoado do charuto. E com auras, ambientes de certo tipo, tudo passa, tudo passa. Como pode alguém ter a coragem de ser medíocre?!, perguntam-se, atarantados, numa confusão mental de formigas sem antenas, e um pouco ressentidos.
- A mediocridade conduz à excelência, meu estafermo - explica o guru num sorriso de quase ternura, mas o que ele quer é morder-lhe, morder-lhe o pescoço até escorrer sangue e a seguir gritar: Dói? Escreve sobre isso! Ler-lhe-à os pensamentos?, espanta-se o rapazote. Talvez leia, quem sabe.
Do esgoto nasce a flor. É o rancor, a inveja que os leva a criticar? Como te atreves Tu a ter coragem?! Logo Tu, um Irrelevante! A coragem é reservada a corajosos! (Como a água e o ar são reservados aos melhores? Como os direitos são reservados só a alguns?) Não sentimos todos? Não temos todos a necessidade de nos expressar de modo criativo? Se apenas os Melhores pudessem fazê-lo então não haveria nada, não haveria Arte, não existiriam no mundo livros, quadros, esculturas, música, dança, cinema que nos elevassem a alma, nos elevassem a alma até ao Panteão Divino, o sítio escondido que murcha na labuta da vida quotidiana, trabalho-casa-trabalho, escola-casa-escola, escola-casa-trabalho-casa. E devemos essa elevação aos Medíocres! Porque se atreveram, porque se atrevem, porque arrogantemente se atrevem. Uma estátua aos medíocres já.
- Mas... - contrapõe e leva logo um murro nos queixos.
- Queres saber a Verdade, cabrãozinho? - diz o guru num sorriso cínico a mostrar os dentes e a acariciar os nós dos punhos como as meninas acariciam o cabelo das bonecas. - E logo tu a queres conhecer! Como Te Atreves A Querer Saber A Verdade?! - a voz ribomba como a de um deus fodidinho de todo, alguém lhe cortou a vez na bicha ou furou-lhe os pneus. - Não há verdade a não ser a tua! - revela a tremer as bochechas escondidas nas barbas sujas e emaranhadas. - Como é que eu te posso dizer a verdade se só tu a podes descobrir?! Duques, só me saem duques! Idiotas que me questionam sobre maçãs quando só tenho pêras para oferecer! Queres que te facilite a vidinha, é? Que te desvende a verdade quando essa é a tua missão. A tua verdade é a tua verdade, a tua verdade não é a dos outros; a tua escrita, o modo como se desenrola, o modo como se desprende da ponta do lápis, o modo como se evola, é a tua escrita e Não Tem Nada A Ver Com A Escrita Alheia.
(Entretanto dois chapadões na cara do fedelho, fedelho de vinte e sete anos é certo, mas tomemos em atenção que apenas fedelhos colocam tais questões imbecis. Merece os dois chapadões. Para acordar. Para ouvir.)
- Deus só quer a tua verdade, está-se a lixar para a dos outros, ele já a tem, quer a tua, não entendes? A tua verdade pode ser pequena, medíocre, risível, isso não importa. Os medíocres de hoje são os excelentes de amanhã. Vós, rapazolas ignorantes, que tanto admiram os grandes actuais admirariam a sua vulgaridade antiga? - ri-se. - Então não. São magníficos porque persistiram na loucura, na mediocridade, na mediania, na sua escassa excelência. Porque se voltaram e olharam para dentro, para a chama, e tentaram expressá-la, torná-la visível ao exterior, partilhá-la com os demais. E os outros por vezes são como tu: críticos ambulantes. Críticos que exigem hoje a excelência em todas as ocasiões, atribuíssemos nós o poder aos críticos e exigiriam de crianças a impecável escrita de novo “Guerra e Paz”, de outro “O Nome da Rosa”. A bem da mediocridade há que ignorar os outros. A bem da literatura há que ignorá-los de todas as formas possíveis, a cada dia inventar nova forma de não lhes passar cartucho.
- Mas... - e leva um murro no estômago. O jovenzeco dobra-se, agarrado à barriga de dentes cerrados, toca com a testa no chão. O guru (quer ver a Fórmula 1 e despachar isto) segura nas lapelas do casaco e levanta-o.
- Sujei-te o fatinho, foi? Fica de pé, não te sentes.
O guru inicia uma dança à volta dele e da fogueira enquanto diz:
- Segue o teu caminho que fazes caminhando. O teu caminho é feito por ti. A cada passo abres nova brecha da estrada que antes não existia. Tu és o teu caminho, não olhes para os outros, segue-te a ti, a Arte resolve-se a ela própria e sempre no futuro. a Arte nunca se resolve no presente. O teu trabalho é expressares o fogo que tens dentro. Só isso. Sobretudo trabalhar muito e com tremendo entusiasmo porque esse entusiasmo É o fogo.
O guru pára, arregala os olhos e grita:
- Trabalhar bastante e com grande entusiasmo! Segue entusiasticamente a chama que tens dentro. - Acalma-se, baixa a cabeça, tem pouco tempo para estas merdas, a fogueira está quase a apagar-se e ele sem cavacas ali à mão. - Escreve aquilo que te incendeia, segue as personagens que te magnetizam, o que farão elas a seguir?, segue-as com fascínio e admiração. Segue-as de tal modo que ao fim de um mês a escrever desenvolvas uma tendinite. Se não conseguires ficar longe delas e as folhas voarem à tua frente, então, meu menino, tens um livro. E congratulo-te. Permite que o teu entusiasmo te consuma, te conduza, te inflame, essa paixão vai guiar-te para além da mediocridade, para o sucesso, mas sucesso, olarilas, sucesso aos teus olhos. O sucesso que sentes ao pegar no teu livro, feito terminado, revisto, e pensar de olhos luminosos: sim, eu compraria este livro! E é verdade. Fogo. O fogo, a paixão e muito muito trabalho. Trabalho perene, constante, rotineiro. O trabalho está para a escrita como a pressão da terra para o carvão: um conduz à literatura, outro ao diamante.
Dá-lhe um pontapé no rabo, o jovem aceita submisso. Desfere-lhe murraças na cara que apara com os braços erguidos. O nariz incha e o sangue suja o fato.
- Trabalha com este pensamento: que se foda a qualidade. Primeiro serei medíocre! Serei absolutamente medíocre e regozijarei com isso. Trabalha com este pensamento: vou ser verdadeiro, despir-me à frente do público, mas isso não é o que te assusta, pois não? O que vos assusta a todos é despirem-se, ficarem nus à frente de vós mesmos! Terem de lidar com a vossa verdade e os vossos sentimentos! Irás também magoar os outros. É necessário que magoes os outros.
«Lembra-te: dilacera os outros, paspalho! Quê, desejas ser escritor de sucesso, ou mero escritor, Sem solidão?! Não se faz, meu menino, a casa não gasta disso. Ah, queres ser amado... logo vi que eras desses... amado... visita as putas e paga o privilégio. Não serás amado enquanto escritor. Não é isso que importa. Não é esse o fim último. Custa-te estar só e escrever? Também a mim me custa muita coisa, custa-me levantar cedo de manhã e receber carrada atrás de carrada de meninos de bibe como tu, que discutem Política, Cultura, Arte e Cinema como adultos, mas não têm sequer a coragem das crianças, a coragem e a curiosidade que as leva a experimentar coisas inéditas. Inimagináveis. Tens medo dos outros? Ainda?! Há bom remédio: escreve e esconde. Isso é bom. Escreve e mostra, isso também é bom. Não há diferença final entre uma e outra escrita, só diferença de método. Método de agir após a escrita. Não duvides: há por aí muito escritor que não sente necessidade de revelar a sua obra, escreve para si, esconde, retorna a antigos livros feitos, relê-os, gosta, detesta, corrige, não corrige, tem uma arca cheia de livros, eu não duvido da sua existência. Estes escritores existem. O resto, o que vem depois não lhes interessa para nada. Podem até queimar as obras antes da morte e, descendo o caixão à terra, serão cadáveres felizes por apenas eles terem lido esses livros desconhecidos. Ignorados. Invisíveis. Ah, existem sim, mas infelizmente nunca me procuram. São ariscos como gatos no escuro da noite, corremos no seu encalço e deparamo-nos com sombras. Tu, óbvio, não és um deles.
- Mas... a... a Arte Superior... - murmura em vozinha de rato de ombros encolhidos e rosto desviado.
O guru agarra-lhe o cabelo com força e puxa-o, puxa-o. Exclama, furioso:
- Que se coza a arte superior! Puta que a pariu! A arte resolve-se a ela mesma e nunca no presente, já to disse, porra!
Arremete-o contra a parede de rocha e o corpo mole escorrega para o chão.
- Chazinho, chazinho de camomila é do que eu preciso, para os nervos - diz, a bufar pelo nariz.
O rapazinho remete-se à posição fetal. Tem o fato rasgado. O guru fica longos momentos em silêncio, de olhos cerrados. Depois enche os pulmões e repete:
- O que os outros vão pensar, a qualidade, a arte, ficar para a história, ser imortal, não ser medíocre, tudo isso é insignificante. Não tens nada a ver com os outros, escreve para ti primariamente, unicamente, se há leitor a que tens de satisfazer primeiro esse leitor és tu, o teu entusiasmo e gosto vão-se comunicar aos outros. Não podes fingir. Nota-se. Não mintas. Vê-se.
Mas ele vê que há ideias remanescentes naquela cabecinha de amendoim. E os prémios? Então e os prémios.
- Ai, ai... - o guru abana a cabeça. Tem a fúria de um fole esvaziado. - Sucesso é um livro continuar a ser lido daqui a cem anos, não para o nome do autor viver, mas para que os seus sentimentos sejam revividos pelo leitor, como se olhasse para uma foto e as pessoas saíssem do interior. O pior de todos os prémios é o Nobel. É maneira de dizer “Podes parar de escrever”. Dizer isso a um escritor é pedir a um peixe que deixe de usar as guelras para respirar. Os verdadeiros escritores têm pesadelos tenebrosos com o Nobel. Não o querem receber. Agora vai-te lá embora.
- Mas...
- Tu é que explicas a escrita a ti próprio, ninguém o faz por ti. Burro, burro. E com isto as corridas de carros vão a meio.
O candidato a escritor desce atabalhoadamente a encosta. No caminho cruza-se com outro, sorridente, de fato e gravata e com um corte de cabelo assim à foda-se.
- Ah, hoje não vou trabalhar!
In other news.
Estou ali a escrever umas cositas, já termino e venho postar.
Cada vez que tomo banho tenho uma data de ideias de escrita a rodopiarem-me na testa, mas mal quebro o contacto com a água as ideias, puff, esfumam-se.
Preciso de um jacuzzi.
Ainda não é finais de Janeiro? Mas devia ser, devia ser. Mister Bentley wants to come out of the box and play. With you.
And an axe >:D
Coisas que tenho aprendido em relação à escrita: usar tempos verbais no presente e passado.
Escrever com entusiasmo.
Se possível foder o juízo à igreja católica escrevendo coisas heréticas.
Ah!
O ESCREVA! ATINGIU OS 400 MEMBROS!!!!!!!
É tudo por agora.
E lembrem-se: se beberem e conduzirem - não sejam apanhados.
segunda-feira, dezembro 26, 2005
sábado, dezembro 24, 2005
quinta-feira, dezembro 22, 2005
- Planeamos, para certo e determinado ano de 2006, fazer Bungee Jumping - diz o velhadas de papada que tem por hábito usar o nós régio, monárquico ferrenho e vetusto, acredita-se ter presenciado a Revolução Republicana e mesmo a Francesa. Dizem-no antigo aristocrata foragido à guilhotina e tentam apanhar nos és um resquício do sotaque gaulês. Mas as pessoas dizem muita coisa, a maioria sem tino. Ainda ontem ouvi umas trezentas sem juízo nenhum.
- Nós planeamos sacanear o Governo e o Estado em milhões de fundos da Comunidade Europeia - replica o outro, que o imita. É direito como um fuso, magrinho, pele e osso, um velho anoréxico que só bebe chávenas de chá e repudiou para sempre o açúcar. Para justificar a mania à família faz-se de burro, imbecil chapado, mesmo um estafermozinho e diz: faz-me mal aos osses. Os velhos têm esta mania singular de se fingirem estúpidos (e surdos) porque lhes facilita a vida, dá-lhes paz e sossego, não têm de aturar parentes mai-las perguntas idiotas rotineiras - e com a agravante deliciosa de puderem gozar com os novos, pensas que és mais do que eu por seres mais novo, olha que não és!, olha que não és! Um ressentimento duradouro pela juventude - eis a inteira expressão dos velhos. Mas isto sou eu a falar e sou novo, caro leitor a mim contamina-me os osses a parcialidade.
- Meu caro amigo - diz o da papada, - o que me diz da presente situação política?
- Não me meto em bueiros - diz o outro com evidente desprezo. - Para chacinar neurónios inocentes prefiro o método habitual: o visionamento das telenovelas da TVI. Ontem mesmo, repare, descobri quem era o António e que alguém o tinha morto e que naquele mesmo dia esse facínora!
- Facínora!
- ... ia ser descoberto.
- Quantos neurónios foram à vida nisso?
- Não contabilizei (o contabilista meteu férias), mas largos milhões, caro amigo, largos milhões. Passe-me o sal, faça-me o favor.
- Aqui tem.
- Obrigadinho.
O velho magro que nem um cordel fino levanta-se e faz um círculo em redor da mesa com o sal.
- Isso é para quê?
- Novas bizarrices de velho! Há que entontecer sempre a família.
- Olhe que o põem num lar.
- É o meu sonho. Possa eu ser velho e louco e infantil como uma criança à vontade!
- Aterrorizam-me os lares. Estão cheios de velhos! A babarem-se, cheios de mijo e ranho e merda, nojo.
- Olhe que não caminha para novo.
- E as enfermeiras, todas feias e gordas e suburbanas. Nem dá gozo ser velho se as enfermeiras têm cara de estafermo demolhado.
- Como o bacalhau?
- Ora nem mais. Uma bolachinha?
- Agradeço, mas eliminei o açúcar da minha dieta alimentar.
- Mais fica.
Um silêncio confortável instala-se.
- Eu é mais a bola - diz o da papada.
- Bola?
- Para matança de neurónios. Fico a ver aquilo e desce-me o Nirvana.
- Sem meditação?! - exclama o outro, inclinando-se de olhos abertos.
- Exacto.
- Hiii... - e recosta-se, em maravilha.
- A criadita francesa onde se meteu? - pergunta o da papada revirando o pescoço.
- Está a ler Kant.
- Outra vez?! - diz, zangado.
- Deixe-a lá, homem, anda a acabar o doutoramento.
- Nunca mais acaba essa porra...
O velho fino, fino como uma vareta de chapéu-de-chuva, levanta-se, põe-se a executar o passo de ganso e a seguir informa:
- Tenho de ir. Passar revista às tropas.
- Fizeram-no General?
- Ainda não. Está para breve, está para breve.
- Eu ainda sou só Marechal de Campo... - e amua.
- Não se chateie. Tem uma colecção de borboletas inigualável!
- Lá isso...
- Amanhã à mesma hora?
- Vou fazer uma radiografia, não posso.
- Eu agora só posso segunda-feira.
- Combinado.
E despedem-se com um beijo na boca (sem língua). À russa. Hábitos modernos, vá-se lá entender os velhos.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Participem também!
COISAS QUE EU FIZ ESTE ANO [2005]
Inventei o pára-quedas. Fui eu, a sério. Desenvolvi uma obsessão grave pelo Brad Pitt. Mandei limpar o sótão com um bulldozer. Cometi o crime perfeito, o corpo jamais será encontrado. Não vale a pena oferecerem docinhos que eu não digo onde está. Emocionei-me entre cinco a dez segundos a olhar para a carinha laroca de um bebezinho rechonchudo, chegando a considerar a hipótese de ter um. Mas depois tinha que o alimentar todos os dias e mudei de ideias. Deixei de comer açúcar (custou). Visitei em segredo Marte numa missão exploratória da Nasa. Há lagos, sabiam? E alugam jet-skis. Os marcianos são uns bacanos, mas não deixam fumar. Comprei camisolas e procuro, desesperada, um gorro. Um gorro, um gorro, o meu burro por um gorro! Ganhei um gato. Perdi uns quilitos. Tive considerações filosóficas várias. Aquartelei desejos homicidas. Tremi de medo quando Saturno entrou em Leão. Procurei incessantemente a resposta definitiva que me explicasse o Mundo, a Verdade, Deus, a Morte e o horário do Metro.
Até ao momento não obtive sucessos quantificáveis (nas palavras do sacana que me despediu: temos pena).
Adquiri um problema ocular que me acompanhará por muito e muito tempo. Consegui escrever cem mil palavras. Conquistei um pequeno país latino-americano. Remeti cartas obscenas a Jô Soraes (não me respondeu). Fiquei com mais vontade de abandonar Portugal. Vomitei cada vez que via uma notícia sobre o processo da Casa Pia. Tenho uma confiança inabalável na Memória da História, que suplantará os nossos ossos apodrecidos, e ela fortaleceu-se, solidificou-se. Joguei ao bingo, joguei na bolsa, joguei ao póquer – perdi sempre. Deixei crescer as unhas. Cortei-as. Não me perdi de amores. Fui má, mas gostei. Assinei um contrato para a publicação do Senhor Bentley, o Enraba-Passarinhos. Fiquei feliz, mas não deslumbrada. Conheci muita, muita gente. Esqueci-me dos nomes quase todos. Aprendi certos truques. Fiquei a saber que, não raro, as mulheres não adquirem o nome dos maridos quando se casam, o que me espantou porque isto é Portugal. Desenvolvi uma opinião muito má acerca dos portugueses. Viajei imenso na mente. Em primeira classe. Mudei fraldas (ok – não, esta parte é mentira). Fui ao médico uma data de vezes. Levantei-me cedo, fui dormir às quinhentas. Li poucos livros. Fiz manifestações a apoiar o consumo de hambúrgueres, o comércio injusto, o uso de peles, o não uso de peles, os Estados Unidos, o Iraque, o racismo, a integração. Vi pouco cinema. Tive questões comigo mesma. Chegámos a vias de facto. Tive questões com os outros, mas calei-as. Cresci vinte e cinco centímetros. Rapei frio. Congelei. Morri de calor. Pensei: a reencarnação é a resposta mais lógica – mas isso não foi o fim do caminho. Tive pena de não acreditar fosse no que fosse, em vez de me consumir neste agnosticismo, barquito sem remos nem vela num oceano com pouco vento, mas, se acreditassse, fosse no que fosse, teria fundo desprezo por mim. Considerar-me-ia uma imbecil.
Comi muitos legumes.
No geral não foi um mau ano. (E não, não digo onde escondi o corpo.)
domingo, dezembro 18, 2005
Participem também.
Playstation
- Ó mãe, ó mãe, ó mãe! – grita o Menino Jesus para a Virgem Maria. – Eu quero uma playstation! Eu quero uma playstation!
- Ai, larga-me de mão, não agarres o carrinho, ainda temos uma data de compras por fazer. Tu pensas que o dinheiro cai do céu?!
- Mas, ó mãããeee...!
- Vai ter com o teu pai.
- Ó pai, ó pai! Este Natal eu quero uma playstation!
São José está com as mãos nos bolsos enquanto segue a mulher pelo carrefour com um ar anestesiado.
- Também eu queria muita coisa...
- Mas a mãe disse... – diz o Menino Jesus de voz estrangulada e com os olhos arregalados.
- Logo se vê – responde São José sem olhar para ele e para dar por terminado o assunto.
- Dás! Quer dizer que dás! Ééééééé! – e desata a saltitar pelo corredor dos óleos.
Na noite de Natal São José já sabe qual a desculpa que vai dar ao puto, sabes como é, o Pai Natal perdeu-se, as renas não sabiam o caminho aqui para a nossa casa. Deixa lá, fica para o ano, para o ano o pai promete que lhe manda um mapa. Olha o carro de bombeiros tão bonito que a mãe e o pai te comprou! Vai, vai lá brincar com os teus primos.
Não havia dinheiro para playstations e até teve de pedir algum mprestado para fazer face às despesas do Natal.
A vida estava má. Suspira e continua a seguir a esposa, o filho cabriolava pelo meio deles, alegre.
sábado, dezembro 17, 2005
"Segundo Euclides Dâmaso, o país pode até desconhecer o que Daniel Kaufmann, do Banco Mundial, afirma sobre Portugal: que «podia estar ao nível de desenvolvimento da Finlândia, se melhorasse a sua posição no ranking do controlo da corrupção»."
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Estou parva. A Lola só se ri.
E o senhor Bentley, bem, esse anda de caçadeira na mão a correr atrás do Pai Natal.
Ao nível da Finlândia.
A Ética devia ensinar-se na escola desde a 1ª classe até ao último ano da Universidade.
Mas isto sou eu a sonhar alto, não é? A Lola desatou a rir e engasgou-se com um pedaço de goma (isso é para os putos, pá, não tens idade para andares a comer gomas, digo, zangada) e o Bentley junta-se-lhe numa ribombante gargalhada.
Quer dizer: pode-se ter sonhos de riqueza, mas não de ética?
Raio de país.
E mais outra pérola:
«Faz curso a ideia de que os promotores imobiliários e os empreiteiros são
os maiores financiadores das campanhas e dos partidos». Justamente, «para
obterem, no momento próprio, as almejadas contrapartidas», analisa o director do
DIAP, sem, no entanto, apontar casos concretos. Argumenta o magistrado que,
provavelmente, estará aqui «a razão principal do alto preço do imobiliário em
Portugal e do caos urbanístico e desconcerto ambiental».E andam milhões de portugueses a pagar mensalidades absurdas durante décadas por causa disto.
Sunlit Colony, Malibu, CA
E isto não tem nada a ver com a foto: Luís Miguel Cintra ganhou o Prémio Pessoa de 2005.
A notícia.
Quando comecei a escrever o Senhor Bentley quis fazê-lo num registo teatral, num monólogo, mas rapidamente "caí" na narrativa, o meu género preferencial. A imagem física do Bentley, a primeira imagem física que me veio à mente - foi a de Luís Miguel Cintra.
Depois mudou um pouco.
Mas se alguma vez o Senhor Bentley for levado ao palco ou ao cinema (ah, ah, ah! one must dream!) quero que seja ele a interpretá-lo.
Agora querem ir para Arruda dos Vinhos no dia de Natal, devem estar mas é parvos. É Natal, mas não são férias, Segunda eu tenho de me levantar às sete da manhã, Arruda dos Vinhos, vão esperando. Prefiro estar em casa, quentinha, enrolada no edredão, sem que me chateiem, a pôr o sono em dia, hoje fui às compras, quando sou cliente também gosto de ser bem atendida, não me parece ter sido o caso, na caixa de dez unidades a senhora começa por dizer:
- Olhe que esta caixa é só até dez unidades.
Eu conto-as em voz alta. São dez exactas.
Depois diz qualquer coisa acerca das camisolas, que eu não percebo porque ainda não coloquei todos os itens em cima do tapete. Ela repete.
- Vou pô-las em cima dos joelhos para me aquecer.
- Hum? – e continuo a fazer o mesmo.
Ela ainda não compreendeu que eu Não Quero Conversa. Hoje Não Me Apetece Paleio. Passo Horas a falar, o fim-de-semana é reservado ao Descanso.
Depois pede-me desculpa e explica-me que era apenas para não se sujarem no tapete e que podia perfeitamente (as compras) passar das dez unidades. Passa algum tempo nestas explicações. Eu:
- Ah – e arrumo as compras.
No fim: esqueceu-se de fazer a conta exacta, deixou de fora o peixe e o azeite, acrescenta-os.
(E ainda tive de ser eu a pôr o peixe e as camisolas nos sacos, o que não costuma suceder. )
Dou o dinheiro, recebo o troco e mais um daqueles talões inúteis para usar na Repsol quando for a pôr trinta litros de combustível que, convenhamos, é acto diário, rotineiríssimo.
Às vezes dá mesmo vontade de dizer: desculpe, mas eu não quero falar, quero despachar-me, ir para casa fazer o almoço e comer, dá para fechar a matraca?
Arruda dos Vinhos... horas seguidas a aturar a família inteira (de quem gosto muito, não me interpretem mal) que agora anda a braços com um género de drama, não o apelido de pequeno por não querer ofender ninguém – não, obrigada. Deixem-me em paz, descansada, a sonhar com lareiras imaginárias.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
terça-feira, dezembro 13, 2005
7 horas: acordo, expulso Buda, as divindades Maias e Deus da cama, filho da mãe, que pés frios, e saio para o glaciar do quarto.
7h-7h30: faço exercício físico e meditação transcendental. Deus toca-me no ombro, peço-lhe educadamente que me desampare a loja e não torne a aparecer-me à frente. Sai, amuado.
7h30-8h: faço chá, amaldiçoo a maré que me molhou os pés e se retrai para debaixo do sofá, digo psst-psst, musa? Anda, tenho leite morno e bolachas. E frango, frango assado. O silêncio ecoa nas paredes. Espalho grãos de milho e ervilhas congeladas no corredor para atraí-la.
8h-12h: escrevo, sofro de interrupções várias, as personagens jorram-me, líquidas, pelas orelhas, torno a pô-las cá dentro, os candeeiros choram, mais outra lâmpada fundida, fungam, as cadeiras e o aquecedor bocejam, a mesa-de-cabeceira estira os braços e diz: vou lavar os dentes. Respondo: não gastes a porra do gás todo.
12h-13h: faço o almoço, vou para a rua, como já não há gás espero que chova e tomo banho vestida.
13h-15h: como e leio, durmo a sesta. Converso com unicórnio. E aí vizinha nem sabe nem sonha nem imagina ai mas onde é que estou com a cabeça roupa de cor misturada na branca é do meu pequeno está muito frio para andar por aí despido sujeito a correntes de ar então não é que a mulher do vizinho lá de baixo sabe o cigano ah é ela que é cigana não sabia foi preso por tráfico de droga você sabe a ciganada e a pretalhada é tudo assim - diz enquanto estende as crinas brancas a cheirar a lixívia e woolite. Os unicórnios racistas são uma fonte inesgotável de inspiração, preciso deles como da fina ponta das canetas rotring (0.1), que custam o caralho de uma fortuna.
15h-17h: pela primeira vez no dia o crítico interior faz a sua aparição. Mato-o com o lança-chamas. Esfuma-se numa bola de fogo, os vizinhos vêm queixar-se dos berros e que não pode ser, todos os dias, todo o santo dia, a matar gente, a matar gente, a matar gente. Vão chamar a Deco. Eu faço-lhes um manguito e respondo que podem até chamar o Figo. Regresso à escrita.
17h-18h: leio. Danço. Leio.
18h-20h: antes mesmo de me sentar à secretária já o estafermo do crítico interior me ocupou a cadeira e julga com uma sobrancelha alteada e pegando com dois dedos a ponta da folha, cheio de nojo, a minha escrita, que abomina e que por pena não daria nem à fogueira, merecedora de material superior que lhe faça as chamas. Dou-lhe um tiro. Vários. Arrasto-o para o lado e sento-me a escrever. A maré que vem da sala limpa o sangue e um tubarão faz o resto da limpeza.
20h-21h: hora da janta.
21h: a musa finalmente aparece, faço-lhe massagens e festas. Desesperadas tentativas de sexo desvairado da minha parte, que educadamente recusa. Fumo um charro com a musa, espirro vezes seguidas, não sei ¨travar¨ o fumo, não consigo aprender. Maldita alergia que me cerca o ensino a meio. Nem no recorrente lá vou. Vejo a cara da musa envolvida em névoa diáfana, mais fina que a espessura da hóstia a envolver doces. Parte depois de me pedir dez euros para o bingo.
21h-23h: sozinha... leio distraída. Fito o sítio vazio que continha o televisor e imagino as notícias: hoje rosas pariram pássaros feios como crias de dinossauros.
23h: Deus reaparece. Com a bíblia, ainda por cima. Dou-lhe porrada, murros, socos. Refugia-se na cama e lá fica até eu me juntar às 23h21. Empurro-o com os pés para o fundo, na vã tentativa de o sufocar. Buda e os deuses Maias regressam da borga, a cair de bêbados.
24h: adormeço.
Os Sábados e Domingos reservo para: acordar tarde, essencial -íssimo!- não escrever, fazer nenhum, não me vestir nem tomar banho, limpar a casa, fazer mudras, contemplar teoremas matemáticos, colher limões, atazanar abelhas com o meu ferrão, arrotar, empanturrar-me de doces sem açúcar e, no geral, respirar aliviada por estar viva - porque estar morta era uma chatice. Naturalmente esmurrar Deus. Ter considerações lúbricas acerca da musa. Pensar em metáforas poéticas para a seduzir e levar à cama. Um dia vou conseguir. Espalhar migalhas de pão-de-ló e pastéis de tentúgal para atraí-la, Deus tenta comê-las, vai à Misericórdia, estafermo, vai à sopa dos pobres, digo e com o pé no rabo empurro-o para o chão.
Esta seria talvez a imagem possível para certa e determinada personagem
de certo e determinado livro (Senhor Bentley, o Enraba-Passarinhos)
que está aí está a sair :)
[Janeiro, meus lindos, é em JANEIRO! FAVOR FAZER FILA À PORTA DA FNAC!]
In other news: este blog não é mau - http://otalentodamediocridade.blogspot.com/
E o tipo vota e tudo.
92 folhas A4 - menos do que 100 mil palavras, o meu objectivo inicial, mas fiquei lá perto. Levei quase 2 meses a terminar a 1ª versão. Não quero pensar no trabalho que tenho pela frente 0_o
No resto do mês... vou continuar a escrever, mas outras coisas, talvez para o blog, logo se vê, coisas mais pequenas, contos... não sei ainda.
E em Janeiro '06 novo desafio: 50 mil palavras, só que a computador. Há tanto tempo não escrevo um livro a pc!
Finito, finito, the end, fixe, fixe, fixe.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Já estou tão farta daquele livro.
Mais duas folhas e acabo-o! Depois largo-o a um canto e começo outro.
Talvez daqui a uns meses, dois quem sabe, o passe a computador e comece pela 1ª vez o lento labor da reescrita.
I must, I must.
Ó, quem me dera uma salamandra no meu quarto gélido!
Quem me dera um São Bernardo para me aquecer os pés!
Um Best-Seller, um Best-Seller, o meu cavalo por um Best-Seller!
Que se lixe a memória futura! Eu tenho os pés frios Hoje e é Hoje, com um raio, que os quero aquecer!
domingo, dezembro 11, 2005
Tenho muito medo da resposta o_o
Se não há nada, exterior a mim, que me obrigue a levantar-me às 7 da manhã - eu não me vou levantar às 7 da manhã. Mas por experiência sei que levantando-me a essa hora eu escrevo. É um dia ganho. Dias em que me levanto às tantas são dias perdidos. Falta-me, então, domar a minha inata indisciplina.
Não há uma mézinha para isso? Voodu, rezas?
Como é que eu vou conseguir encarar a escrita como um tra-ba-lho? Como é que eu vou conseguir disciplinar-me a mim própria?
Maldita preguiça, é um tigre rebelde que preciso domar. Um animal selvagem que me domina a mim e eu sou a dona desse animal selvagem (exijo respeito! Patinhas par cima, vá lá! Olha que levas com o chicote no focinho!).
1º passo - deitar fora a televisão e ocupar os tempos mortos com as palavras vivas dos livros;
2ª passo - não, não posso largar a net, não posso! Skip this step;
3º passo - pôr o despertador para as 7 da manhã.
Just do it, nike style. Nike, li algures, significa vitória em grego, será?
Vitória sobre mim própria, sobre o animal selvagem que me ocupa metade do peito e da vontade.
/random thoughts
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Pedro Namora está indignado com o facto de Mário Soares ter dito que “toda a investigação do processo Casa Pia foi mal conduzida” e acusa o ex-líder do PS de tentar desacreditar a investigação.
Ó. P'ra mim. Admirada.
Admiradíssima!
Deus queira que o Marocas leve uma tal banhada nas urnas que, que! Epá, que, sei lá! Que se reforme de vez.
(Ver: http://www.escreva.com/forum/viewtopic.php?t=198, que reproduzo aqui.)
Caros membros do Escreva!, dirijo-me a vós com um apelo:
ajudem a manter aberta esta comunidade.
Pois é, é verdade, precisamos de money, verdinhas, cacau, pilim.
Nós, fundadores da Comunidade, andamos a tentar angariar dinheiro de todas as maneiras possíveis.
JCraveiro pôs o pai à venda.
O pai dele foi maratonista e ganhou as olimpíadas de Helsínquia em 1952. Homem rijo, está ali para as curvas. Presentemente encontra-se em promoção no stand de automóveis, é mais barato que um ligeiro usado a gasolina com dez anos. Levará quem o comprar às cavalitas para o trabalho. É de aproveitar. Preço de ocasião.
A Elo é uma maravilha biológica: nasceu com três rins. Um está à venda na Ebay. Eu, por meu lado, sou uma anomalia biológica: só tenho um rim (a sério. Mentiria?) e preciso do fígado todo, não posso dispensar nem um 'cadito. Mas vendo duas avós pelo preço de uma! Uma delas sabe fazer meias. No Inverno dá jeito uma avó destas. Jeitosa de mãos. Prendada.
Estimados membros do Escreva!, contribuam para que o site continue em funcionamento. Um, dois euros farão toda a diferença para os nossos esburacados bolsos. Vá lá, que os meus camaradas já me começam a olhar de lado e a pegar dissimuladamente em facas e tesouras e a avançar para mim, que, não sei quê, não preciso do fígado todo e, não sei quê, para estar quietinha que assim dói menos e, não sei quê, já têm um cliente qualquer nas arábias e vai ser num instante e o helicóptero está à espera.
Acudam.
*Corre pela vida*
[Se quiser contribuir, por favor envie um e-mail para elo@elotopia.net
Ficamos gratos.]
Participem também!
(Só que, hum, fiz quase o dobro das palavras, no embalo, lol.)
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Alicate
-Onde é que foste?
-Não fui a lado nenhum.
-Mas demoraste uma data de tempo.
-Ó.
-... trouxeste o alicate?
-Sim.
-Achas que é o fio verde ou o castanho?
-Sei lá!
-Não estás a ajudar muito.
-Ó.
-Queres que esta merda rebente?
-Ó pá, eu estou-me a lixar, quer rebente quer não rebente.
-Quer dizer, não te importas de ficar por aí espalhadinho em mil bocados?
-...
-É?
-Não.
-E a tua namorada, também não se incomoda?
-... qual namorada?
-A tipa com quem estavas a curtir e que pertence ao bando que nos pôs aqui para morrer nesta merda de labirinto.
-...
-Sim, eu vi os dois pombinhos.
-...
-...
-Tu não viste nada! Estávamos apenas a conversar! E ela não está com os outros gajos!
-Não sabia que se conversava com uma mão debaixo da blusa. Essa é nova. É um novo tipo de conversa? É para quê? Sentir os batimentos cardíacos e ver se está a mentir ou não? Olha que se toda a gente conversasse assim havia menos mentirosos! Pois, vai-te embora.
-Poupa-me.
-...
-Eles só querem... uma coisa: que digas onde escondeste aquilo de que andam à procura. Dá-lhes essa merda e tiram-nos daqui.
-E tu vais com a tua amiguinha, em cima de um burrico, off to the sunset. E ainda pensas que ela não tem nada a ver com o nosso cativeiro. É o quê, a criada, veio fazer o serviço, passar o espanador e, ó que grande surpresa, cativos! Por favor...
-Está na mesma situação em que nós! Nós, não, em que eu: apanharam-na porque ela viu o teu rapto.
-Foda-se, já te disse que foi um engano! Eu sei lá quem são estes gajos! Não sei de que merda é que falam! Não faço ideia do que querem! Já lhes disse isso um milhão de vezes!
-...
-Tanto se me dá que acredites ou não. Estamos no mesmo barco, se rebentar morremos os dois. Passa para cá o alicate.
-...
-Dá-me essa porcaria.
-Não.
-Não?! Tu queres morrer?!
-Se não me disseres onde puseste aquilo, lixo-te os cornos!
-Eu não acredito!!
-Onde está!
-NÃO SEI!
-Epá, arrebento-te a cabeça com a merda do alicate!
-Cabrão!
-Estafermo!
-Argh. Tira a mã... Cab
-Argh! Uff! Sacana…
-Fica aí! Quietinho!
-A menina vai bater-me, é? Com esse corpinho? Pff.
-Eu detono a bomba! Corto a merda de um fio qualquer e vamos os dois pelos ares!
-Espera, calma, calma lá.
-CALMA UMA MERDA. NÃO TE MEXAS!
-Está bem, está bem.
-Senta-te, SENTA-TE!
-Está bem, está bem. Já me sentei. Pronto. Calma.
-E fica aí. Aí!
-Tudo bem. Não te enerves.
-...
-...
-...
-...
-Vou cortar o fio castanho.
-NÃÃÃOO!
-Pronto, já está.
-...
-Simples.
-Que barulho é este...?
-Ups...
quinta-feira, dezembro 08, 2005
Acho, não: vou fazer mesmo.
Quem me acompanha? :)
E desta vez escreverei a computador (hum, provavelmente no alphasmart que é para não me distrair com a net, evil evil net).
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"This is the community for January Novel Writing Month!
Not affiliated with NaNoWriMo, but taking the ideas laid out there and in Chris Baty's book No Plot, No Problem! this is a month-long project to write a 50,000 word novel in one month!
A lot of people have a hard time with the official NaNoWriMo because it takes place in November. November has a lot of school commitments, Thanksgiving, elections, holiday shopping, and heaven help you if you work retail!
January, on the other hand, is a much better month for starting new challenges. You can even make "write a novel" one of your New Years Resolutions and be done before February 1! And most people are already awake at midnight on January 1st anyway! Plus, January has a whole extra day to finish your novel!
The rules are the same as NaNoWriMo-- 50,000 words of a NEW novel. A "novel" is defined as a work of significant length of prose fiction. "New" means you didn't write it before.
You cannot start writing before January 1, but you can make outlines, character sketches, and notes all the way up till then. If you're tempted to write/rewrite the novel you've written/rewritten/been working on for years, DON'T. Just don't. Trust me when I say there's a reason you haven't finished it yet. Start with something new. Start with something BAD if you want. Your first finished novel can and maybe should be the kind of thing you want to hide in a drawer or outhouse until long after you're a famous bestselling author. (See below for the NaNoWriMo05 exception)
The novel can be quasi-autobiographical, as long as it's fictionalized.
It can have poetry segments as long as it's mostly prose.
It can have extensive quotations.
It can be fanfiction.
It doesn't have to be good.
It doesn't even need to be publishable.
We don't have the fancy website, forums, and word verification tools, but we do have some cool stuff anyway. We have this community for support and, if you send me your text file and address, I'll run a word verification and send you a hand-calligraphied certificate of completion in February!
Oh, yeah. And if you want to add 50K or finish a novel you started for NaNoWriMo 2005, that's ok-- it's fresh enough that you won't be lugging around an albatross of failed literary endeavors."
Outro site a ver (não sei se me registarei nele ou não):
http://janno.ymakadomain.com/faq.shtml
http://edition.cnn.com/2005/US/12/08/airplane.gunshot/index.html
Porque é que esta merda me dá nojo?
Porque, sooner or later, estas modas acabam por chegar aqui.
Epá, excelente ideia para ajudar a exterminar o défice: exterminem-se os doentes mentais! Cá Fixe.
>:[
Nojo de mundo.
"1 ano e novos rumos (estão abertas as inscrições!)
Olá colegas escritores.
Antes de mais gostaria de congratular todos já que esta ideia fez um ano (dia 15 de Novembro) embora este novo espaço (.com) só o celebre no início de Fevereiro. Isto deixa-me imensamente feliz, por um lado um dos meus projectos tem força para andar, por outro porque não o empurrei sozinha. E foi certamente esta segunda parte que o fez chegar tão longe. Desde a força da Ágata (Dunyazade) em querer mudar as coisas e a técnica do João (JCraveiro) até ao último inscrito na nossa longa lista de membros (são hoje já 382!), todos fazemos do Escreva! um lugar de partilha e crescimento quer na nossa língua, quer em nós próprios.
E como crescemos em todas as medidas, sabemos avaliar que o trabalho destas 6 mãos já é insuficiente para as 758 desse lado! Estamos os 3 numa nova fase da nossa vida, com muitos projectos à cabeceira. É por isso que decidimos pedir a vossa palavra. Chegou a hora de acolher um novo administrador. E para isso decidimos não escolher ninguém, mas abrir-vos a porta para que se candidatem. Não se iludam, precisamos de mão de obra Alguém que actualize os desafios regular e metodicamente, mas que também saiba apreciar o trabalho nos bastidores.
Ficamos à espera da vossa participação sem medos via e-mail, ou (preferencialmente) via mensagem privada.
Portanto declaro que a partir deste momento estão abertas as inscrições para o novo administrador do Escreva.com
Até breve.
Eloisa L."
Então, alguém aí com vontade de arregaçar as mangas? :p
quarta-feira, dezembro 07, 2005
Participem também!
* * * * * *
Ó Torradita Tão Bonita!
Torradita Torradona
Torra Torra Torra
Não rasgues a esfregona
Torradas Torresmos
Sanduíche de lesmas e limos
(Sem primos)
Torradas com manteiga verdadeira
À beira da fogueira
Pingos a pingar na camisa de algodão,
Seda e linho
Torresmos e tostas de um lado e outro do pão
Torradita Torradita tão bonita
Lá se vai a linha
Que se coza – a malta definha
NHAM! Torradas sem manteiga não pode ser
Manteiguinha – da séria – a escorrer a escorrer
Queixo abaixo
Queixo abaixo
Até ao chão
segunda-feira, dezembro 05, 2005
domingo, dezembro 04, 2005
-= Heavenly Art =-
Isto é tão bonito que me vejo forçada a roubá-la.
E outra coisa roubada, uma bela carta de amor.
Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me mais novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que tu não queres.
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim.
Fontainhas, 2005, Pedro Costa, DVCam, cor 4:3, 4 minutos e 36 segundos,
Ventura lê a última carta que o escritor Robert Desnos escreveu em Auschwitz, reescrita em português
Exposição FORA! em Serralves
Tree Rays
Hoje apetece-me ser tão criativa quanto esta árvore, filtrar, pelos ramos, a luz do sol a luz de deus em quem não acredito.
Scheherazade No. 0074
Irmã: que névoa é essa que te envolve?
Não te matou ainda o Rei Shahryar pois não vejo o teu sangue nem o quero ver.
Continua a contar.
Chiiiça.
Quatro anos nisto.
Suponho que uso os blogs como os carros: mesmo até ao fim.
A propósito, disseram-me que o motor do meu renault ainda me dura mais quinze anos.
Fixe. Mas, enfim, não há dinheiro para comprar outro o_o
Tem de durar, não é?
Espero Prendas!, Prendinhas e Prendonas no aniversário, hã!
(Ok, um comentário chega. Isto anda tudo teso, não é?)
sábado, dezembro 03, 2005
Sonhei que a Angelina Jolie se transformava num lobisomem e me perseguia. Eu fugia dela voando, mas voando de uma forma cómica: a dar aos braços não como os pássaros, mas mexendo-os em movimentos circulares repetidos até levantar voo. Imaginem o movimento de uma batedeira. E, tão burrinha, fugi para casa. Mas ela não entrou. Fiquei agarrada ao candelabro da sala a noite toda, lol. Depois tive coragem para sair e ir fechar a porta (!!!!). O meu gato dormia em cima da mesa da cozinha e havia um gatinho novo, preto e branco, que eu não tive coragem de pôr na rua por medo de ter de abrir a porta.
Que eu me lembre esta é a segunda vez em que voo num sonho. E logo num pesadelo, pelo amor de Deus, ainda por cima de forma ridícula.
Enfim.
sexta-feira, dezembro 02, 2005
Ou: Espero que Ninguém me Processe
Conhecemos um certo e determinado papa que em certas e determinadas situações, nomeadamente quando não tem dinheiro para pagar à guarda real suiça, aqueles fatos de palhaço vão por um balúrdio, vende as nádegas a certas e determinadas personalidades políticas ali para os lados do Parque Eduardo Sétimo, altas horas da noite, quando as corujas debicam os ratos caçados, é só volvos a passar, só volvos a passar.
(Diz o senhor Bentley. Catarreia.)
Conhecemos também essas certas e determinadas nádegas, branquíssimas, caídas, teutónicas e papistas e achamos que o preço que o gajo pede, francamente, vá roubar para o Metro, nunca mais me enganas.
E os sapatinhos, Jesus, é cada tacão, nem a Naomi Campbell (ó que és tão boa que és tão bela) se aguenta neles. Mas este papa já anda na vida há mais anos que a bela, dulcíssima Naomi pisa a passerelle. Tem clientela fixa, arrumada, trazem-lhe outros, ele é políticos, ele é juízes, ele é diplomáticos diplomatas diplomados, ele é oficiais superiores da Marinha Mercante e de Guerra, ele é chefes de clubes de futebol, só gente porreira. Freguesia da boa. Não admira não haver crise no Lugar Santo. Não conhece recessões vai para décadas (bom local para investir, a propósito).
(O senhor Bentley alça os olhos para o céu, cruza os braços atrás das costas e balança-se para trás e para diante com a vista firme nas nuvens negras e espessas como cobertores sujos.)
Queríamos apenas dizer (continua o senhor Bentley abrigando-se dentro da paragem do autocarro) que este certo e determinado indivíduo é careiro e que ficariam melhor servidos se fossem mais abaixo ter com os putos. Levam menos e são tenrinhos. Tenrinhos como puré de batata com molho. Slurp.
(Teve pena de não ter telemóvel. Podia avisar que ia jantar a casa. Eis que chega o autocarro.)
quarta-feira, novembro 30, 2005
Cabelinho assim à foda-se.
[Agrada-me. É gira.]
Era uma vez um país que, a não existir, teria de ser inventado. De facto foi-o por um gajo com o cabelinho assim à foda-se de nome Eça. A sério, o Eça inventou esta merda toda. E o bigodinho, fáxavor, bem bonito. O singelo bigodudo inventou um país onde a censura se faz pelo bolso, tendo-o largo, fundo e cheio a malta, inocente ou culpada, safa-se ao justo ou injusto castigo. O gajo do cabelinho assim à foda-se esmerou-se, concedamos. A censura pelo bolso limita o aparecimento de ovelhas negras e tresmalhadas, ou melhor, sejamos precisos, caneco, impede que tais ovinos fujam e formem um rebanho só seu e que esse, pouco a pouco, incorpore os mé-més do apático rebanho original. (Não sabemos se nos fazemos entender, esperamos que sim.)
No tal país inventado (cujo nome no momento nos escapa, ai, o queijinho, o queijinho) acordou certo dia um gajo morto. Não moribundo, não comatoso, mas morto, tão defunto, tão cadavericamente passado como um ovo cozido. Porém via e ouvia e sentia e movia-se ainda. Não entraremos em suposições cósmicas nem científicas. Estava morto, mas vivia e era tudo.
O chato, pensou o morto defunto caminhando vivo em direcção ao Chiado, lá em cima onde há pombos e turistas e igrejas, é que te amava antes de te conhecer e de cair morto e talvez seja isso que me impeça a morte plena porque te amo ainda, gosto de ti, gosto gosto muito de ti, nunca to disse, caminho, fétido, fedorento, malcheiroso porque me anima o corpo a missão incompleta do amor.
(O morto por esta altura do relato merecia nome, simplesmente não o descobrimos - o ficheiro foi mal arquivado. Agradecemos sugestões. Ele tem considerações que de facto a nada conduzem, que importa a razão porque, morto, caminha? Conjecturará mil hipóteses e, independentemente da sua justeza ou não, elas carecem de importância.)
Talvez também o seu caso esteja mal arquivado nos computadores do São Pedro que, é provável, usa o Windows; talvez deus e o demónio estejam a jogar aos dados, competindo pela sua alma e um jogo destes dura milénios, no mínimo; talvez esteja destinado a salvar o mundo antes que esta merda vá toda para o galheiro. São, no todo, considerações que não nos merecem atenção.
Vou ao médico, às urgências, terão sentença para o meu caso, pensou. Pois. Que vá, que vá às urgências do São José. O certo é encontrar um aumento nas taxas moderadoras que farão muitos utentes comer massa com massa durante uma semana. Ele não, é gajo de bom salário e tem economias.
(Talvez fosse castigo, praga, mau-olhado, mas não debateremos tais possibilidades. Ele que conjecture por aí à vontade.)
Bom, na verdade não. É só em Janeiro. Trata-se de um mero exercício. it’s a practice drill, fear not. Mr. Bentley is not in the building, I repeat, not in the building.
[Escrito antes de 23 de Novembro´05. Talvez a dia 20.]
É um homem estranho de tão normal. Foi casado. Divorciou-se. A mãe joga canasta, é hiper-chata, crítica, nunca elogia, vê tão-somente os defeitos. De manhã sai da cama, calça as peúgas e não posso continuar o raio da história, o sacana do gato não pára de tentar morder a caneta bic de tampa vermelha. À pouco cheirou-me o caderno e ´tá sempre com a patinha (patona) a levar a caneta à boca. Agora morde-me o caderno. Eu desvio caneta e caderno.
Curiosidade de gato, suponho. (Pára.) Cheira e trinca a ponta do caderno A4 espiralado.
Os meus olhos. Update: esta merda não cura. Dia 23 de Novembro nova consulta (Pára. Não mordas.), já ando tão farta daquilo, pingos e lavar os olhos duas vezes ao dia com champô Johnson e mais pingos. Por vezes esqueço-me, não faço. O olho direito parece ter regredido, uma das manchas alargou e sinto uma impressão no interior, choro do outro, dói-me na parte de fora, ao canto. Raio. Vou ter de cuidar desta porcaria o resto da minha vida? É como se tivesse diabetes ou outra doença crónica, irrita pá.
[Update de 30 de Novembro: melhorou consideravelmente. A razão dos problemas com os olhos prende-se, aparentemente, com o facto de eu ter caspa. Nas sobrancelhas. Pois, também fiquei parva. E lavá-las com champô Johnson resulta. As manchinhas estão a desaparecer. Um tratamento tão simples... e para o ter tive de marcar consulta com um especialista da córnea. Enfim.]
In other news. Nanowrimo. Soa bem, não soa? It rolls down the tongue. (El gatarron dorme com a patarrona em cima do caderno, gato literário o gajo.) Feitas 35 mil palavras. Faltam as restantes. Quero produzir, no total, 100 mil. Já tinha começado a escrever antes, estas 35 referem-se só à contagem do nanowrimo que começou a 1 de Novembro. Penso que metade das 100 mil vão para o lixo, aquilo terá de levar uma volta muito grande, mas ao menos inventei outras personagens de que gosto muito e que poderei voltar a utilizar. (A Igreja Católica fuzila-me, mas adiante, lol.) O livro vai servir como desafio: aprender a reescrever. Quantas reescritas serei capaz (Pára) de fazer? Li autores que clamam para os seus livros (Pára) sete revisões, treze revisões. Chiça. Eu chateio-me depressa e quero mas é avançar para o próximo. Sou demasiado impulsiva. Too many fire signs. Vou tentar combater essa tendência em mim.
(Chove. Gosto quando chove e estou cá dentro, segura e quente perto do aquecedor. O Prémio Nobel para quem inventou o aquecedor. Já.)
terça-feira, novembro 29, 2005
Ganhei :D
GanheiGanheiGanhei!
50 mil palavras num mês. O livro tem mais, comecei-o antes do nanowrimo, e ainda me falta terminá-lo. No total deve ficar à volta das 100 mil palavras. Depois the real work starts: cortar, cortar, cortar.
No próximo ano concorram: www.nanowrimo.org. Penso que para o ano de 2006 escreverei a computador.
segunda-feira, novembro 28, 2005
domingo, novembro 27, 2005
- Escrito numa gloriosa Sexta -
Ai que frio do caraças, catano. O almoço está a ser feito. Adoro as sextas-feiras, são o meu dia favorito. Adivinhem porquê, hehe. Se não fossem pelas sextas uma pessoa definhava. Bom, não pelas sextas elas mesmas, mas pela antecipação do que representam: o fim-de-semana, olé! O fim-de-semana só dura dois dias, o que é pena (lacrimejo). Sniff. Devia durar três, pelo menos. O Parlamento que me reveja a Lei.
De manhã levantei-me às sete horas, oh joy, com o frio fora da cama a enregelar-me os ossitos, gostava que o sol viesse acordar-me e sentar-me ao colo, assim não tinha de acender o aquecedor a óleo, era tão bom pois era mas não é. Azar.
Faço ioga. Meia hora, praí. Ósdespois faço chá e vou escrever durante três horas, das oito às onze horas, com interrupções. Se aquilo me correr bem, a história avançar e eu for de caneta em punho atrás das minhas personagens, entusiasmada com as suas aventuras e patifarias várias, consigo fazer mais do que três folhas A4,
se correr mal e estar ali a arrancar o texto a ferros - faço duas mil palavras, ou seja, duas folhas A4 (em papel quadriculado). Há mais de um mês comecei a seguir este plano. Quero mantê-lo. Às vezes a preguiça, sobretudo em dias em que não trabalho e não tenho de me levantar cedo, impõe-se. Seguidamente vejo mails e lá pelo meio-dia faço o almoço (antes alimento o gato para lhe prevenir uma síncope de tanto miar, porra, ´tá gordo que nem um abade obeso mórbido, chiça, só sabe pedir comida). À tarde saio, vou trabalhar, chego a casa antes das onze, janto e vou dormir. Ver televisão é mentira. Não posso. Senão de manhã é o levantas. (Mas só dá porcaria, não perco muito.) O que eu gostava mesmo mesmo mesmo era viver ao pé da praia,
talvez em França, ao sul, ou em Barcelona, acordar com o som das ondas a rebentar no exterior, a praia deserta, toda só para mim, o grito, o uivo das gaivotas a ecoar no exterior enquanto eu aqueço as mãos, o corpo o rosto, na lareira acesa e depois me estabeleço quietamente à mesa e começo a escrever. Disso é que eu gostava.
Não tenho lareira, mas um aquecedor a óleo. Em vez do mar vejo, só do sótão, uma nesga do Tejo ao fundo; praia é mentira e as gaivotas aparecem por aqui quando a tempestade as açoita e elas procuram refúgio nas Augi.
Ó, como eu queria ser podre de rica, não ter de trabalhar, mas, se não trabalhasse escreveria? O pior é que sei a resposta: sim, embora menos. Porém eu queria (quero) só escrever, escrever, escrever, ao pé do mar, olho para fora e depois de uma curta extensão de areia livre e minha observo o furioso rebentar das águas e espuma, o mar em revolta, o uivo da chuva e do vento, as nuvens pesadas, negras, espessas como puré com molho de couve-roxa, a largar trovões e relâmpagos, e eu acoitada perto do calor da lareira, a ver as janelas lacrimejantes, a escutar o ressonar do gato e a escrever, feliz da vida.
Talvez um dia o meu sonho se cumpra. Ó, quiçá.
Ver do almoço.
[E Viseu Aqui Tão Perto]
A Verli que infectou os homens. Pensei, sem ver os pássaros (ao correr da pena, ao correr da pena escrevo) a arrulharem lá fora, se é que arrulham, não há pombos aqui, só melros, gaivotas e falcões, Os homens são tão idiotas. Matam-se por sexo, matam por sexo. Deus me perdoe (peraí - sou agnóstica) por me atrever a julgar, mas julgo julgo julgo. Burros. Cretinos. Não penso, Merecem-no, porque passam a sua morte incógnita às companheiras insuspeitas. Para isto acabar a merda do preservativo devia vir de nascença, lá, logo no posto à saída do parto. De outro modo a congénita cretinice macha (que não afecta toda a espécie masculina, sejamos justos) continuará a matar, a suicidar sem saber, a assassinar na sombra, guiada por instintos que não podem ser controlados, nem limitados, mas esses instintos têm consequências fodidas e essas sim têm de ser prevenidas. BurrosBurrosBurros.
A linda, bela, eu sei lá, italiana: ó mulher, se há um inferno tu pelo menos vais fazer por lá uma paragenzita. Ai vais. Não acredito em infernos eternos, a havê-lo será uma coisa temporária, mas justiça em vida ou na morte tem de ser feita. Vingança. ´Tá bem... as mulheres mereciam a morte silenciosa e traiçoeira que lhes destes? As esposas e namoradas (ou namorados) destes palermas mereciam-na? Percebo, por este caso, mas já o sabia antes, trata-se antes de uma confirmação, porque é que a vingança é má:
porque tem consequências fora do nosso controlo, é impossível balizá-la, ferir apenas uma pessoa, deixar de fora quem não nos merece a ira, afectam-se indivíduos que nada têm a ver com o assunto, a vingança espalha-se
exponencialmente, como as ondas num rio sem margens, sem margens nenhumas, e continuam a replicar-se para além do horizonte e tempo vistos, para outros rios e outros mares.
Perdoar ou pelo menos Não Fazer Mal, Seguir Em Frente, Getting The Fuck Over It, resolve isto. Impede a propagação das vagas, deste mal que se espalha e multiplica. E agora e agora e agora? Agora está tudo fodido, não é? Proponho que acessorizem logo à nascença o pénis do bebezinho berrante com um preservativo que crescerá com ele. De outro modo não vejo maneira para evitar situações destas.
A não ser que a prevenção contra a sida no nosso país hipócrita comece a ser levada a sério. A partir dos cinco aninhos as criancinhas deviam ser ensinadas sobre o que é o preservativo, o que evita, como deve ser usado e em que situações deve ser usado.
Era giro, não era? Eu acho que sim, era giro. Mas, vá lá, o Papa e os papistas ainda mandam nesta merda toda.
(A Lola não está cá, foi para uma manifestação qualquer, passou dias a fazer os cartazes, por isso I ranted for her.)
sábado, novembro 26, 2005
sexta-feira, novembro 25, 2005
Deus. Do. Céu.
0_0
Deus me perdoe por ter sido esta a primeira coisa em que eu pensei: os homens são tão idiotas.
E quantas esposas, namoradas e mulheres eles não contaminaram sem o saber?
quinta-feira, novembro 24, 2005
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=182271&idselect=9&idCanal=9&p=94
Ó rapaz... :(
Assim os tipos vencem. A vida é a maior vitória.
A tua vida. Percebes? Coragem.
quarta-feira, novembro 23, 2005
sábado, novembro 19, 2005
terça-feira, novembro 15, 2005
segunda-feira, novembro 14, 2005
domingo, novembro 13, 2005
"Julia Cameron: We are ecosystems. Creativity is an
ecosystem. If we want to be creative, we fish from the well of the ecosystem.
It's as though you have an inner trout run and when you strive for creativity
you're fishing out of it. Then you need to replenish it, restock it.
When
you walk, a couple of things happen. One is that you have an image-flow moving
at you. You see and notice things. You see a tiny little bird skittering under a
pine branch. You see a homeless person if you're in the city. You note the
image, and the image goes into the well. The well is part of the heart, and
that's where your art comes from.
Walking also moves you across the bridge
into a larger realm of ideas. It allows you to listen to a different frequency.
I experience it as a sort of click in the back of my head. I begin to have
insights and inspirations which seem to be of a simpler and higher order. There
is something enormously powerful about visualizing and moving at the same time.
It may just be because we have more energy to deal with, but it really helps
things to clarify, and once something clarifies it begins to be able to
manifest.
I call it crossing into the imagination. When we make things they
begin as thought forms, as spiritual blueprints, and when we are walking and we
visualize something, we're actually drawing it into form. As a writer, if I have
a tangled plot line, I go for a walk. I'm not thinking particularly about my
plot; I'm thinking about the little wren that I saw, I'm thinking about the
mallards, if I'm in New York maybe I'm thinking about the antique velvet rope
that I saw in the shop window. And as I'm thinking about these things, "Oh!
That's what I can do with my plot" emerges. Creativity is sort of Zen: as you
focus north, solutions emerge south. It's not linear."
Hoje só consegui escrever, até agora, 600 palavras. E foram arrancadas a ferro. Ver se consigo escrever pelo menos mais mil palavras.
sexta-feira, novembro 11, 2005
Lindo.
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"THE RICH MUST LIVE MORE SIMPLY SO THAT THE POOR MAY SIMPLY LIVE." - Mahatma Gandhi
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If you are having difficulty with a book, try the element of surprise: attack it at an hour when it isn’t expecting it. ~H.G.Wells~
Done today: 2800 palavras.
quinta-feira, novembro 10, 2005
blue morning
And now for something Blue.
Ou: tenho o jantar ao lume.
(E hoje escrevi o total de 1h20, 1770 palavras.)
O pior de tudo é: tenho de arranjar a outra metade da história. Podia ir aos dares, mas não me apetece pôr lá pelo meio um ninja que desate a matar as personagens.
*sigh*
UMA CONCHA A CAMINHO DE LIVRO?
Esta concha vinda de longe, concha com uma estranha roupa, talvez uma roupa de festa, talvez uma roupa de núpcias, esta concha, talvez, possa um dia tornar-se livro, vestir-se de livro, entrar dentro de um livro. Três pinceladas de tinta acrílica ela recebeu em certa manhã de maio. E agora, agora que maio termina, ela é uma concha outra, não mais a concha do mar, mas concha que paira no centro de um mínimo universo, beiradas de um buraco negro, beiradas de um minúsculo planeta, na rota de uma mínima estrela. Que concha é esta então a caminho de ser a página de um livro? Que concha é esta solta no ar, aeroplana concha, concha agora em duas luas convertida, com suas duas luas que são as abas de suas duas páginas calcáreas?(Paulinho Assunção)
terça-feira, novembro 08, 2005
segunda-feira, novembro 07, 2005
Então Doutor, foi exatamente naquele momento que eu descobri o quanto sou apaixonado por ela- aquela mania de bocejar na minha boca, depois levantar com um sorriso e sair andando puxando a calcinha da bunda- eu adorava este processo de acordar que era só dela. Tê-la dessa maneira, na minha cama. Seria nosso retorno feliz, mas ela sempre surge com questões que eu não sei responder, malditas questões. Não sei o que acontece, essa mulher me cala a boca e os movimentos. É tudo, desde anestesiar meu tesão até bloquear minha mente. Saiu batendo porta com aquela cara emburrada de última vez- toda vez é uma última, e não tem fim. Mas talvez dessa específica vez tenha sido a última. Eu fui com ela caminhando pela orla, e ela já não dizia nada. Olhava o chão sem expressão alguma, peguei na mão dela, e seguimos um largo pedaço assim, de mãos dadas, ela olhando a pista, os carros, sei lá o que. Eu tinha muito o que dizer, juro que tinha, mas não consegui formular nada, absolutamente nada. Dizer o que? Olha, eu te amo, volta pra minha vida? Ela diria que isso é um clichê barato, uma fuga desesperada inconsciente. Porque era assim, e um mês depois outra briga, e outra. E agora caminhávamos como dois estranhos, como duas pessoas isoladas numa cama. O sexo era incrível, eu fui pensando no corpo dela, no quanto me faria falta, no cheiro, no gosto, no jeito que ela me tocava. Chegamos ao ponto, ela pegou um taxi e não me deixou abraçar, foi a última vez que a vi , há 9 meses atrás. Eu ainda deixo algumas coisas da casa do jeito que ela fazia- a pilha das latas de condimentos, as toalhas no banheiro, a posição dos porta retratos- acho que é aquele fio de esperança de que ela volte. Durante esse período saí com algumas mulheres, bebida, sexo, cigarros demais. É, eu voltei a fumar. Eu assumo esse processo de degradação pessoal. Nada me satisfaz. E não é dependência sentimental por ela, é paixão, amor, sei lá que nome posso dar a isso que eu sinto. O Senhor acha que eu deveria ter dito que sinto essas coisas todas por ela antes do taxi ter partido?
Camila Mendonça