Há claramente uma linha fracturante que separa a civilização ocidental do Islão.
Eu pensava que não havia. Estava enganada.
Eu fico deste lado.
É uma coisa, com sinceridade, que me parece mais pertencer ao instinto do que à cultura: eu fico do lado da liberdade de expressão.
Tirar este direito à nossa civilização é como tirar os pilares da casa: a estrutura vai abaixo e lá voltamos a tempos medievais.
Nem sequer pode haver discussão neste aspecto. Todas essas discussões já foram tidas, no passado; os nossos antepassados (ou contemporâneos recentes - 25 de Abril) já mataram, já morreram, já lutaram tudo o que tinham a lutar pelo direito fundamental à liberdade de expressão.
Já parámos, por exemplo, de usar a violência para manifestar o nosso desacordo, isto em matérias de religião.
Já fizémos esse caminho todo, no cristianismo. Ninguém me vai matar por blasfemar contra o Deus ou os santos católicos.
E porém a basfémia é a mesma, é idêntica.
Porque terei de me preocupar com a minha integridade física - no meu próprio país, na minha própria civilização - se blasfemar contra o Islão e, contudo, não tenho de modo nenhum de me preocupar com ela se blasfemar contra o cristianismo?
A única coisa que me impede de tocar num fiozinho de cabelo do Islão é, além do desinteresse que sempre tive (interessa-me mais o Budismo e o Taoísmo), o medo.
O medo pela minha vida. O medo pela minha integridade física. O medo pela destruição da minha propriedade.
Só o medo me contém. Não é o respeito.
É o medo.
Isto diz muito sobre o ponto a que nós chegámos, não diz?
Eu penso que sim.
Porque é absolutamente normal que tenha de ter esse receio saudável num país muçulmano.
Mas no meu próprio país? Na Europa? Dentro das fronteiras da civilização ocidental?
Porquê?
Epá, isto chateia-me. Chateia-me, pronto.
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