segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Há claramente uma linha fracturante que separa a civilização ocidental do Islão.

Eu pensava que não havia. Estava enganada.

Eu fico deste lado.

É uma coisa, com sinceridade, que me parece mais pertencer ao instinto do que à cultura: eu fico do lado da liberdade de expressão.
Tirar este direito à nossa civilização é como tirar os pilares da casa: a estrutura vai abaixo e lá voltamos a tempos medievais.

Nem sequer pode haver discussão neste aspecto. Todas essas discussões já foram tidas, no passado; os nossos antepassados (ou contemporâneos recentes - 25 de Abril) já mataram, já morreram, já lutaram tudo o que tinham a lutar pelo direito fundamental à liberdade de expressão.

Já parámos, por exemplo, de usar a violência para manifestar o nosso desacordo, isto em matérias de religião.
Já fizémos esse caminho todo, no cristianismo. Ninguém me vai matar por blasfemar contra o Deus ou os santos católicos.

E porém a basfémia é a mesma, é idêntica.

Porque terei de me preocupar com a minha integridade física - no meu próprio país, na minha própria civilização - se blasfemar contra o Islão e, contudo, não tenho de modo nenhum de me preocupar com ela se blasfemar contra o cristianismo?

A única coisa que me impede de tocar num fiozinho de cabelo do Islão é, além do desinteresse que sempre tive (interessa-me mais o Budismo e o Taoísmo), o medo.

O medo pela minha vida. O medo pela minha integridade física. O medo pela destruição da minha propriedade.

Só o medo me contém. Não é o respeito.

É o medo.

Isto diz muito sobre o ponto a que nós chegámos, não diz?

Eu penso que sim.

Porque é absolutamente normal que tenha de ter esse receio saudável num país muçulmano.

Mas no meu próprio país? Na Europa? Dentro das fronteiras da civilização ocidental?

Porquê?

Epá, isto chateia-me. Chateia-me, pronto.

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