Ousássemos
Ousássemos nós ter o peso das estrelas aos ombros, nus, quiçá nus, por certo nus; estrelas afogadas em brilho, em luz, poeira, escuridão, matéria negra que suga, suga, chupa o vazio.
A dor das estrelas. Quando morrem. Quando expiram.
Ousasse eu senti-la. Amplificá-la, amplificá-la no ventre; que se me dilacera o ventre com a dor explosiva das estrelas.
O ventre que dói, abortado; o ventre que se cala porque o calam; não há liberdade que não ofenda o sangue em que o ventre nada.
(Nada.)
Não vos quero ouvir. Calem-se.
Há um ror de cordas a compor o útero – não quero puxá-las porque se me rasga a voz.
Não vos quero ouvir. Esse cacarejar gratuito e louco.
Não há liberdade a não ser a dos mudos, a dos cegos, a dos que voluntariamente se deixam amordaçar.
Ousássemos nós seguir voluntariamente o caminho dos outros;
e negar o nosso canto;
e calar a nossa língua;
e apagar o nosso brilho.
Ah sim, isso sim seria libertador.
Seria libertador vivermos amarrados.
5 Fev.’06
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