quinta-feira, março 30, 2006
o pilinha esguia
Bentley, o Pilinha-Esguia
O senhor Bentley, também conhecido por Pilinha-Esguia, costuma visitar lares com a seguinte desculpa:
- Cof, cof, 'tou velhinho - longa pausa absorta no vazio. - Velhinho... a família, os filhos, disseram: escolha um lar.
Mentiroso.
Visita-os aos magotes, o canalha e, apanhando a ocasião, mal as enfermeiras e auxiliares de enfermagem e médicos viram costas, aproveita a oportunidade para chagar os cornos a algum solitário.
- Ó, a morte! - diz, endireitando-se e recuperando por milagre a voz normal e saudável, tem menos vinte anos no lombo.
- Os bichinhos a comerem, a comerem, morf-morf. Os bichos a mastigarem! - e ri, ri, os olhinhos relampejantes.
A idosa escolhida por alvo, de cabelo ralo branco, arranjado de manhã numa temporária permanente, encolhe-se dentro do roupão e das chinelas e tenta afastar-se no andarilho. O senhor Bentley volteja ao redor da pobre, como um orangotango.
- Ó-ó-ó!Oh! Oh! Oh! Ah-ah-ah!
Parece uma borboleta que sofreu pavorosas mutações genéticas, pelo modo como adeja os braços em movimentos ondulados, mas o dobrar de joelhos revela o macaquear símio.
- Deixe-me...! - sussurra de olhos esgazeados, assustada, caminhando passito a passito.
- Vão-te comer os olhitos, os vermes! Nham-nham! Os bichos! Os vermes! As pulgas! Para que insistes em viver se já podes estar morta?! Não compreendo - ele, o Iluminado - o porquê da obstinação quando tens a MORTE TODA À TUA FRENTE! Sim, pois não queres ser cadáver?! Olha a velhaca... quer ficar para semente - sibila, baixinho, o asno - ... para semente, a velhaca... Não Sabes O Que Perdes! Festarola da boa! e cicia maquiavélico As bactérias primeiro comem-te os intestinos, hi, hi, e os órgãos internos. Comem-te toda por dentro! Ficas feita numa papa...! diz, esgazeado, com o queixo perto do nariz da velha As moscas, bzz-bzz, deixam os ovos na tua carne. Os vermes nascem e começam a morfar, a morfar, a morfar. Crunch-crunch-crunch. Os escaravelhos juntam-se à paródia... e as vespas! E as pulgas... hop, hop. Comem-te toda até ficares sequinha, só pele seca e osso! Festa rija, sim senhora, sim senhora...
Vendo a enfermeira-chefe ao fundo do corredor, hop!, logo salta com o chapéu-de-chuva para cima, cola-se ao tecto como uma salamandra nojenta e esponjosa.
- Um... um homem mau... - debita, débil, a velhota.
- Sim, sim, vá dar uma voltinha. Faz-lhe bem - diz a enfermeira sem parar, condescendente, batendo a mão ao de leve no ombro da vel, perdão, idosa.
- Ali, ali... - aponta com o dedo curvado, debilmente, para cima.
- Vá lá dar a sua voltinha e depois venha lanchar, não se esqueça! - diz, risonha, já no fim do corredor.
O Pilinha-Esguia apanha-os sempre desprevenidos e sozinhos, por vezes nos dias em que as famílias os visitam. No momento em que estão sós, o genro foi à máquina buscar café, a filha está no jardim a apanhar ar ou a ver as instalações, a tia velha está no conversê, de costas, com o auxiliar de enfermagem, e lá desce o senhor Bentley, de guarda-chuva (mas donde diabo é que ele veio?!), sorrisinho matreiro e - com vermes nas mãos. Sim, vermes.
- Este vai comer-te a pele. As bactérias liquidificam-te por dentro. Tens quanto, três, quatro meses de vida? Prepara-te. Vai ser um baile, a tua cova! As moscas correm a depositar ovos na tua carne e as crias alimentam-se dela.
- Á,Á,Á! - grita o pobre de olhos esbugalhados, muito alto, sem forças para se levantar do sofá e fugir. - ÁÁÁÁÁÁÁ! Ááááááááá!
- Mas o que é isto?! - exclama o auxiliar de enfermagem, confuso. - O que é que lhe deu? Sente-se mal?
Bentley, o Enraba-Passarinhos (alcunha que ganhou do tio por ter uma pilinha muito pequena), está ali mesmo ao lado, mas sem sobretudo. Ninguém o reconhece. (Ai se o reconhecessem era porrada na certa. E merecida. Comeu poucas. Mereceu todas. E mais ainda.) Veste um pijama e escondeu o chapéu de coco num saco de plástico do Continente. Amarelecido, enrugadíssimo, arroja as pantufas no chão e sai, devagarinho, porta fora.
- Hi, hi, hi - ri-se, mansamente.
Alça para o céu, allez-hop!, sem ninguém dar pela marosca.
Outro lar de idosos o aguarda!
Um gajo tem de arranjar actividades na reforma, não é?
30 Março'06
quarta-feira, março 29, 2006
"6 - Descreva brevemente a sua linha editorial (autores em que pretendem
apostar, géneros, público-alvo, etc).
A linha editorial pode resumir-se simplesmente na procura de livros bem
escritos, independentemente de géneros, trate-se de ficção ou ensaio, cujos
compromissos contratuais não esmaguem à partida o projecto e que sejam
estimulantes de produzir e de ler. Desde que tragam qualquer coisa de
substancial e de novo ao nosso projecto e aos leitores portugueses que gostem
de algo mais do que livros que parecem escritos por e para personagens de
telenovelas. Dado que temos de nos cingir a uma quantidade reduzida, faremos
por pesar mais o prato da qualidade, tanto no conteúdo, como na promoção, como
na relação com livreiros e leitores."
Encomendas : encomendas@livrosdeareia.com
Recepção de originais : originais@livrosdeareia.com
Emotion and poetry
Poetry and Emotion
Poetry is about emotion. About taking your heart and placing it in somebody elses beating chest, creating a one identity, a new heart.
Poetry isnt math. Or science. Or astrophysics. It cannot abide logic. Much less be as technical as setting up an air-conditioned.
Its sole purpose is to fail understanding.
A poem cannot have a universal meaning because everyones heart beats to its own rhythm.
Those who put mechanical understanding before emotion fail in the long run and will not be remembered, nor their poems.
Human memory is based upon feeling. Care. Love. Affection. Hate. Envy. Relief. Those make us humans. Man and woman feel akin to flesh. Veins. Body warmth.
Our descendents will never ever look for a machine, or a machine like explanation, to find a sense of humanity.
A poem is a comrade. A friend that makes you feel. Or helps you feel. Or helps give name to what you feel. Or, lacking a name, a sense that you do not have those feelings alone. You are part of something bigger.
So poetry that puts anything else before emotion in its interpretation fails. In the present. And future.
Those poets are working in the void for the void. They are not working for their fellow human being. Maybe its zen poetry.
But I doubt it.
terça-feira, março 28, 2006
"Margarida Rebelo Pinto e Oficina do Livro requerem contra João Pedro George e Objecto Cardíaco uma providência cautelar não especificada com a finalidade de impedir a distribuição e venda da obra Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto. Passa-se isto a um mês das comemorações do 25 de Abril de 1974."
'Tás fodido, lol.
'Tou-me a rir, mas não tem graça nenhuma.
Não, meu lindo, para certas e determinadas coisas, nós ainda estamos a 24 de Abril de 1974.
Boa sorte. Espero que ganhes. E porquê? Não tenho nada contra a MRP, mas valorizo a liberdade de expressão. E se ela a valorizasse também não faria isto.
segunda-feira, março 27, 2006
A poesia encontra-se em todas as coisas - na terra e no mar, no lago e na margem do rio.
Encontra-se também na cidade
- não o neguemos - é evidente para mim, aqui, enquanto estou sentado, há poesia nesta mesa,
neste papel, neste tinteiro;
há poesia no barulho dos carros nas ruas, em cada movimento diminuto,
comum, ridículo, de um operário, que do outro lado
da rua está pintando a tabuleta de um açougue.
Meu senso íntimo predomina de tal maneira sobre meus cinco sentidos
que vejo coisas nesta vida - acredito-o - de modo diferente de outros homens.
Há para mim - havia - um tesouro de significado numa coisa
tão ridícula como uma chave, um prego na parede, os bigodes de um gato.
Há para mim uma plenitude de sugestão
espiritual em uma galinha com seus pintinhos, atravessando a rua, com ar pomposo.
Há para mim um significado
mais profundo do que as lágrimas humanas no aroma do sândalo,
nas velhas latas num monturo, numa caixa de
fósforos caída na sarjeta, em dois papéis sujos que, num dia de ventania,
rolarão e se perseguirão rua abaixo.
É que a poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus,
a tomar plena consciência de sua queda,
atónito diante das coisas. Como de alguém que conhecesse a alma das coisas,
e lutasse para recordar esse conhecimento,
lembrando-se de que não era assim que as conhecia,
não sob aquelas formas e aquelas condições,
mas de nada mais se recordando.
[Negritos meus.]
Poema feito para um grupo de quatro gravuras da autoria de Fernanda Garrido (patente na Galeria Diferença, ao Rato).
QUATRO GRAVURAS
Para Fernanda Garrido
O rosto que em si se recolhe
Oculta e mostra as
Imaginações do mundo
Subtis e palpáveis.
Cada quadrado é uma janela
Cristalina: longes de mar
E de montanha, abrigos
De imagens, memórias
Do coração. E a cisão
Contínua, de quadrado a quadrado,
Como películas de um filme
Interminável.
Mas as janelas comunicam entre si,
Alternando no diálogo
A sua posição e cor
Na definição rigorosa
Do seu ser em aberto.
Tudo cabe na pupila que as rasgou
E na que as visita:
Sugestão de quadros dentro do quadro,
O fluir da vida e do tempo.
A dádiva demora-se
E envia-se em todas
As direcções do vento.
Lisboa, 2006-03-25
Maria Teresa Dias Furtado
domingo, março 26, 2006
ISTO É PARA SE LER ALTO, MEUS MENINOS!
LER ALTO! (Enquanto esperam numa fila qualquer para tratar de uma merda qualquer.)
I dare you...
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PASTELARIA - MÁRIO CESARINY
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante -
ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
Nobilíssima Visão (1945-1946)
sábado, março 25, 2006
"I got really upset yesterday upon hearing that over 10,000 portuguese illegals will be forced to leave within two weeks. They are told to pack up their things, sell properties and go back to Portugal----back to nothing. That is so heart wrenching.
I have lived in Portugal---for one and a half years. I know the conditions these people will be faced with. Portugal, although part of the European Union, is still considered the poorest nation in Europe. They are 50yrs in debt to the Union. Billions in debt.
People live in the poorest and delapitated homes while a small percentage live in well to do homes. There is an extreme gap between upper class Portuguese (who are doctors, bankers, lawyers and business owners) and the low-income working class ( farmers, bakers, and factory workers)
When I went to Portugal, my father-in-law was a business man and my husband worked for him. I went to work at a hair salon for 5000 escudos (I was there when it changed to euros January of 2004, so that is 35 euros a week, roughly) After my brief stint there I moved on to work at of all places, McDonald's.
Within three months, I worked up from Cashier, to Grill, Trainer and finally Swing Manager. It was easy, considering that I had already worked for Harvey's (Canadian equivalent of McDonald's) in my youth, and all the handbooks were writen in English. The point of my story is that my husband's aunt in Portugal says to this day,"Why did you leave a good job to go back to Canada?" I was making 585 euros per month.
That is considered a substantial amount and a high paying job in Portugal.
The truth is that it didn't cover all my expenses. I lived for free---bonus.The fact is that the cost of gas in Portugal is over $2 CAD and I worked in downtown Aveiro (a 15 minute drive from Vale de Ilhavo where we lived)and I worked 6 days a week. Plus, the cost of groceries, you can not go to the grocery store too often. Things were way too expensive but we missed home and we used to buy things that we missed about home like cream cheese, ketchup (not the same---way too sweet), instant coffee (WE MISSED TIMMIES---so that would have to do) and potato chips (way too oily).
What I hated most was the way the Portuguese treated immigrants (portuguese that have moved away to America and return). I was born a Canadian but the fact is my heritage is still Portuguese. I used to be ragged on constantly by customers. They are rude and when I would devulge that I am a Canadian they would make rude comments like "I could tell by the way you pronounced your verbs that you were an immigrant" and "If Canada is so great why did you come here to live? To rub in our face that you are wealthy?" One time I almost lost it with a customer when he was picking on one of my Brazilian collegues. He started yelling at the girl saying that immigrants had no rights to come to Portugal and steal jobs from the Portuguese. Well, I couldn't let him say that without me interferring.
I said in my portuguese dialect,"Sir, you have no right to talk to this lady like that. If portuguese were willing to work, she wouldn't have this job in the first place" That ticked him right off. He looked at my name and said, "That is NOT a portuguese name. Where did you come from?" I answered,"If you didn't see my name, would you think I was something other than Portuguese?" He looked at me with bloodshot eyes (he was obviously intoxicated---which is the norm of most portuguese men) and mumbled,"No." I handed him his order and smiled and said cheerfully,"Volte sempre" (Come again)
The fact is, when these 10,000 portuguese return to their homeland they will be faced with a lot of degration. If they do not have money, they will be forced to live off the meger government assistance until they find work. Most are said to be in construction. Construction in Portugal has been given to the Africans, Brazilians and Chech's because they work for lower wages. Now when all these Portuguese workers return, where will they work? They will be forced to live in squaller.
The homes in Portugal are made of hollow clay bricks, plaster and cement. There is no insulation. Winter is horrible. Everything is damp. You feel wet all the time. It's better outside the house than in. Heating is a fireplace or a portable heater. Summer is great---the house is like it's air conditioned.
I just feel for these people who are used to our way of life now here in Canada and they will be faced with hard times in Portugal. My heart really cries out to them.
But why is the government singling out Portuguese illegals? Why not other people who are here illegally?
Why only the Portuguese?
I have so many questions why this is happening.
I am thankful that my whole family came in the late fifties and became Canadian citizens. I am truly thankful to God that I was born here and not in Portugal. I don't take my country for granted because I know what it's like to live away from all the things that are Canada. Freedom and a good way of life. I don't agree with everything my government does but it is still Canada.
My Canada.
God keep our land glorious and free!"
sexta-feira, março 24, 2006
quinta-feira, março 23, 2006
sonho-estranho
O primeiro blog estrangeiro, de outra língua, a linkar-me!
E por causa das fotos!
Que nem sequer são minhas, lololol!
quarta-feira, março 22, 2006
manguel
in Stevenson Sob as Palmeiras, de Alberto Manguel, págs. 27-28
Technorati Tags : Stevenson, Manguel
terça-feira, março 21, 2006
A morte absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão — felizes! — num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante…
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança duma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento.
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: “Quem foi?...”
Morrer mais completamente ainda,
— Sem deixar sequer esse nome.
Manuel Bandeira, Lira dos Cinquent’anos (1940)
segunda-feira, março 20, 2006
O que é que aconteceu a este gajo que tem o blog parado desde 21 de Fevereiro?
Partiram-lhe as perninhas?
Os bracinhos?
Ainda pode escrever com a boca e uma palhinha.
E se os dentes também foram à vida e tem os lábios rachados, pode sempre usar software de reconhecimento de voz.
domingo, março 19, 2006
O ideal seriam quatro horas por dia, mas infelizmente só consigo fazer isso quando estou a usar a personagem do Sr. Bentley. No livro que agora escrevo o Sr. Bentley não participa. Talvez no próximo.
Das 20h30 às 21h30.
Já cá volto.
Poesia é uma anunciação, a anunciação da nossa alma inascida ou já nascida, plena, vital; é um dizer por imagens e metáforas de algo mais, algo acima de nós, ou escondido no reduto mais obscuro no interior de nós.
É a anunciação de algo acima - mas presente, presente de outra maneira, uma espécie de imaterialidade material, ou uma realidade física que não se pode tocar.
A poesia serve para brincarmos com as palavras ou para nos desnudarmos mercê das palavras. Não sou poeta por isso não sei muito bem o que é a poesia, ela de vez em quando "acontece-me", "aparece". Não posso correr atrás dela porque assim nunca nunca a apanho - tem pernas maiores que as minhas. Tem risos maiores do que os meus.
É subjectiva - tanto a construção do poema como a sua leitura por outro. Há três poemas que foram feitos: um quando o poeta o escreve, outro quando o lê e outro ainda quando um estranho lê esse mesmo poema. A multiplicidade de olhares vive no poema e na pessoa que o lê (e pode lê-lo hoje ou daqui a vinte anos; tanto hoje como daqui a vinte anos são dois poemas diferentes que são lidos). Se um milhão de pessoas lê um poema - um milhão de poemas são construídos ali, de imediato. Tão materiais como o conceito "nuvem" - mas que escapam à materialidade do corpóreo.
Mas eu não percebo nada disto. Estou deste lado, sou a "leitora", não produzo poesia. O meu não é um olhar crítico, analítico, mas o olhar do prazer sensorial.
(Feito para este desafio do Escreva! Participem.)
Levem os vossos filhos. Ontem alguns pais levaram a prole. Penso que as crianças também sabem apreciar a arte, mesmo arte abstracta, ou, se calhar, Sobretudo a arte abstracta!
Talvez um dia, quando for velhinha, de cabelos brancos, eu me disponha a descobrir este mundo, não deste lado como, hum, espectadora, mas criadora (para mim, apenas para mim), só para ver o que consigo realizar.
Bom, fica a sugestão!!! O metro é ao Rato e a galeria fica na rua que faz esquina com os Correios, a rua que sobe para cima.
sexta-feira, março 17, 2006
casa pia
Notícia da TVI de 16-3-2006
"2006-03-16 18:34
Casa PiaTestemunha incrimina Jaime Gama e Ferro Rodrigues
Apesar dos crimes já terem prescrito, os advogados da Casa Pia consideram que estes devem ser de novo investigados.
«Mário», nome fictício, disse ao tribunal que nos anos oitenta, na casa dos «RR» no Restelo, em Lisboa, sofreu abusos sexuais por parte de Jaime Gama, actual presidente da Assembleia da República, e ainda por Paulo Pedroso.
A testemunha acrescentou que, na casa de férias da Casa Pia, em Colares, Sintra, também foi abusada por Ferro Rodrigues, Manuel Abrantes e Luís Rebelo, antigo provedor da instituição. O rapaz disse que foi fotografado por Ferro Rodrigues quando estava a sair nu da casa de banho.
Foi um depoimento em que confirma tudo o que já tinha dito antes ao Ministério Público durante a investigação. Esta testemunha é mais uma entre muitas outras que acusa em tribunal, Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso, entre outros.
O relato da testemunha condiz com o que o arguido Carlos Silvino já tinha dito ao tribunal. Ou seja, que na Casa dos «RR» havia festas com sexo à mistura, e que envolviam rapazes menores.
A testemunha disse que entre os 6 e os 16 anos de idade, também foi alvo de abusos sexuais por parte de Carlos Silvino, Jorge Ritto e Carlos Cruz. O depoimento de «Mário» vai continuar na próxima segunda feira."
Notícia do... DN de 17-3-2006
"Jovem implica Gama, Ferro e Paulo Pedroso
O jovem que está a prestar depoimento no julgamento do processo da Casa Pia implicou, ontem, o actual presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, os ex-dirigentes socialistas Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso, o treinador-adjunto do Benfica Fernando Chalana e o ex-provedor Luís Rebelo em práticas de abusos sexuais. Questionado pelo advogado Ricardo Sá Fernandes, que representa Carlos Cruz, se foi abusado por outras pessoas que não estão a ser julgadas, a testemunha foi autorizada pela juíza Ana Peres a mencionar os nomes.
As referências àqueles nomes tinham sido já feitas por esta testemunha, ex-aluno da Casa Pia, actualmente com 24 anos, durante a fase de inquérito do processo. Enquanto Paulo Pedroso chegou a ser constituído arguido - tendo sido ilibado do processo após trânsito em julgado de um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa -, Ferro Rodrigues, Jaime Gama, Fernando Chalana e Luís Rebelo nunca foram confrontados com as acusações. Gama e Ferro chegaram a processar este jovem, sendo que os respectivos inquéritos correm no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa.
Segundo relatou este jovem ao tribunal que o ouviu à porta fechada, as alegadas situações de abuso sexual e que envolviam os nomes citados decorreram na chamada "Casa dos Érres", no Restelo, num apartamento do embaixador Jorge Ritto, em Cascais, e numa colónia de férias da Casa Pia, em Colares.
Dos actuais arguidos, a testemunha afirmou ter sido sexualmente abusada por Carlos Cruz, Jorge Ritto, Manuel Abrantes e Carlos Silvino (Bibi).
À saída da 157.ª sessão do julgamento, confrontado com as declarações prestadas pelo jovem, José António Barreiros declarou: "Diria que são os mesmo nomes constantemente referidos e esse é um problema que terá que ser resolvido. Uma coisa são as decisões dos tribunais, outra coisa são as convicções íntimas das pessoas que sentem que a verdade é esta e que o seu dever é transmitir essa verdade."
Para este advogado, que representa as alegadas vítimas, "deve haver uma investigação que aclare definitivamente estas dúvidas para benefício de toda a gente".
Entretanto, a defesa de Carlos Cruz recebeu ontem o relatório dos exames de personalidade a que o arguido foi sujeito no Hospital Miguel Bombarda. O documento, divulgado pela Lusa, é inconclusivo quanto a uma relação entre a personalidade de Cruz e comportamento pedófilos."
worknothaloic
quinta-feira, março 16, 2006
How well I could write if I were not here!
Every single waking moment is a moment of guilt.
That you spend thinking:
I should be writing and not here, wasting my time not writing.
uma senhora com quem me costumo corresponder há algum tempo, a quem agradeço a amabilidade ;)
"O livro «Sr. Bentley, O Enraba Passarinhos», de Ágata Ramos Simões, chegou ao meu poder numa altura em que me encontro doente, mas quero dizer que não me apanhou desprevenida, pois conheço bem a sua maneira de escrever. Penso que para os moralistas será uma bomba, não compreendo o sentido, o recado para o tempo em que se vive neste mundo cruel e doido. Parabéns Ágata, foi um prazer lê-la no «Sr. Bentley, O Enraba Passarinhos». A apresentação do livro é impecável e de bom gosto gráfica." (cont.)
medico
floridas e murchos
FLORIDAS E MURCHOS
Era assim uma senhora bojuda, cuzuda, rabuda, fornecida de carnes (cortassem-na às fatias e fornecia os talhos de Lisboa! Não minto, senhores, sou narrador circunspecto, sisudo, lacónico, amante da verdade e das caracoletas).
Era assim uma velha velhota muito muito alegre, trazia alegria à vila, à cidade, espalhava o odor das flores nas ruas, que floriam seguindo os seus passos, mesmo em Invernos de rigoroso frio e rigorosas neves. Ria muito. Ria bem. Com sinceridade. Hospedava rugas. Tinha nome para elas: Florinda, Laurindo, Osvaldo, João, Ana Rita. André.
Havia um velho muito velho, seco de carnes (que lhe imitavam a secura de espírito). Não se sabia se tinha ou não dentes porque nunca o apanharam num sorriso. Entrava em qualquer sítio e o fôlego das pessoas morria, exauria-se; nos jardins, passeando na Primavera, as flores murchavam e os pássaros caíam por terra.
A senhora bojuda acreditava e praticava o acto da alegria.
O seco de carnes queixava-se do tempo, das maleitas, ai que me dói tudo, ai que não posso estar assim, ai quem me acode, ai que puta de vida a minha, ai e agora, ai tenho de chamar os bombeiros, levem-me de urgência ao hospital, ai que não me posso dobrar, ai que não me posso levantar, ai quem me limpa o ranho.
A senhora rabuda acreditava no risco, no viver, no ser-se abençoado pela vida e abençoá-la, nós, vivendo. Vivendo em júbilo e fazendo florir as flores nos corações humanos.
O seco de carnes preferia plantar-lhes a gangrena.
Adivinhem quem morreu primeiro.
Pois.
O funeral foi assim:
Ai que ela era tão nova tão novinha tão boa mulher e foi-se, a seguir vou eu, ai coitadiiiiinha deeeeeela!, ai que eu me fino, ai quem me acode já me está a dar alguma coisa, ai as palpitações, abram a cova que eu também vou, ai nem vale a pena levarem-me a casa, fico já aqui, ai que aflição, ai que medo, acudam, quem me ajuda, ai, mas foram-se todos embora e deixaram-me a falar sozinho?!
Malcriadões.
16 Março06
quarta-feira, março 15, 2006
free writing mood
bom. hoje levantei-me cedo escrevi escrevi um bué bocado free-writing mood i'm in a granny came in the house today uma avózinha em casa isto podia ser um filme de terror de terror, caros cibernautas, creiam-me.
tenho assim montanhas de ideias escrever talvez sobre as cartas astrais dos meus primos em segundo grau vixe-maria duplo carneiro com ascendente em leão!, ai o trabalhinho que vão dar... ou talvez sobre os meus desejos e aspirações - que são muitos, imensos, exorbitantes ou medíocres porque poucos ou pouco terrenos ou demasiado terrenos quando deviam ser espirituais e portanto medíocres mais uma vez - ou talvez um conto um pequeno conto para o blog.
mas não sei por onde começar. hoje não vou usar pontuação pontuação parca e decidi não capitalizar a primeira letra das frases orações ou lá o que é à moda da fernanda câncio que tem um belo nome e escreve muito bem mas em termos de coração - não devia ser proibido aos jornalistas namorarem com tipos/tipas do governo afins e sucedâneos? eu acho que sim, devia.
mas um conto que raio de conto os contos começam pelas personagens da última vez que comecei a escrever um curto conto para o blog pensei isto é bom demais vou masé fazer um livro e não houve conto nenhum.
portanto andamos em castings, procurando personagens para enfiar num texto pequeno não mais de mil palavras ou mais se for caso disso mas as personagens se calhar andam em greve não sei.
talvez noutro dia eu consiga escrever alguma coisa. agora bute passar.
Roupa a ferro o_o
(e não vejam aqui nenhuma boca ao processo casa pia só porque usei a palavra ferro, por favor, seus maldosos)
Technorati Tags : free-writing
escrevi
segunda-feira, março 13, 2006
done
Para eu saber o que raio é "...uma poesia de força que intente... qualquer tipo de ruptura..."
"... são muito poucas as poéticas que fazem da noção de risco uma das suas pedras de toque."
Mas a poesia agora é bungee-jumping?
O que me chateia é que eu não percebo o que ele diz ou está a tentar dizer (ou esconder).
Brincava muito com o careca, um rapaz de seis anos que batia em toda a gente - menos em mim. Tinha este nome por lhe raparem o cabelo (por causa dos piolhos).
O pai dele era polícia e suicidou-se.
Tinha duas irmãs, segundo me disseram (ou eram três?), mas eu só me lembro de uma.
Costumávamos brincar atrás da minha casa, que tinha lá uma coisa muito gira que o meu pai estava a guardar para o amigo (quem brincou comigo sabe do que se trata).
Havia ciganos. Eu comia a sopa (que odiava comer em casa, sopa de couve brancas) com eles porque o faziam na rua, em cima de um banco, a segurar o prato nas mãos, e a olhar para o horizonte.
Havia feira às... terças-feiras?
Uma vez desapareci o dia inteiro porque fui brincar para o carrosel (à borla), e a minha mãe, desesperada à procura de mim.
Há mais coisas, mas não vou dizer tudo. Gostava de saber como está o careca agora. Nem sequer sei o nome dele. Hoje já deve ter 34 anos, pelo menos.
Foi a época mais feliz da minha infância.
Será que alguém conhece este gajo...?
Descrição:
Este desafio propõe-lhe uma auto-análise. Descreva-se a si próprio de uma forma que os outros desconhecem. Ou simplesmente descreva-se a si próprio.
Todos os poemas devem ter como título «Eu sou...».
Regras:
* Limite máximo: 16 versos.
* Tema: ego.
* Estilo: poesia.
* Todos os poemas devem ter como título «Eu sou...».
(Desafio criado por Elo)
Abaixo a minha participação.
==============
Eu sou...
Eu sou o contrário de eu mesma
Eu sou viciada em chá (do verde)
Eu sou orgulhosa
Eu sou tímida
Eu sou atípica (como a gripe)
Eu sou um cubo vermelho
Eu sou maleável como o universo
Eu sou material como o efémero
Eu sou poeira cósmica que um dia vai morrer
Eu sou vida e morte num ser
Vá lá, meninos, Toca a Participar!!!!
quarta-feira, março 08, 2006
tryptich
E agora para o nosso momento porno.
(Só publiquei isto para ver se tinha coragem de publicar isto, lol.)
Antes que polícia de costumes apareça cá pela net - há que aproveitar. Qualquer dia vai ser preciso pedir com licença antes de espirrar ou dizer "santinho" lá à entidade reguladora não sei das quantas, mas que me parece iminentemente - salazarenta.
segunda-feira, março 06, 2006
"O MURAL DA ÉTICA
Já alguma vez conceberam o mundo como um espaço residual em que todas as formas se cruzam e multiplicam, dando origem a infinitas sucessões de matéria e seus derivados? Eu não. Acredito, sim, que cada um de nós – mesmo aqueles que praticam esqui alpino na tentativa de ascender aos céus – tem objectivos precisos a cumprir nesta porção de terra a que chamamos Terra.
Os meus, por exemplo, são a escrita e a apanha de morangos silvestres. Sobre este último modus vivendi continuam a subsistir tremendos preconceitos, o mais pequeno dos quais assegura que a nossa postura profissional – no acto da apanha, o traseiro deve estar bem direccionado para o céu, descrevendo um arco de 180 graus – indicia preferências sexuais contrárias aos designados bons costumes.
E, no entanto, para se ser um apanhador eficaz é necessária uma visão do mundo tão ecléctica que um especialista em decatlo perde em toda a linha para a nossa versatilidade."
in "Análise epistemológica da treta", Quasi editores, 2003.
Funny stuff :D
pedra
Pedra
- Eu não a devia ter morto, não a devia ter morto, não devia, não devia. Devia, devia.
(Está um homem velho a mijar contra a parede do Metro. Nojo do velho.)
- Ela começou.
(Ó, ledo engano...)
- Foi ela, foi ela! Só lhe abri a cabeça ao meio com a rocha... foi só uma... pequena... pedra...
(Maior do que as tuas duas mãos juntas, e que são grandes! Uma cobre-te a cabeça até às orelhas.)
- Não doeu... rá... rápido...
(Vermelho. E pedacinhos bonitos de cinzento e osso. Deve ter doído. Tantas vezes bateste. Ela não parava de se mexer.)
- Mentira. Foi só uma vez.
(Não mintas. Eu estou aqui dentro, vejo tudo.)
- Não devia. Devia devia devia.
(Ó, porquê parar? Psst... anda cá, anda. Olha aquela pedra acolá. Não é bonita? Grande e bicuda. Boa para esmagar... mas temos de voltar ao Metro. Usá-la. Na cabeça do velho nojento e depois lançá-la para a linha. Descarrilar a carruagem. Centenas de mortos. Vai ser bonito. Esperas que venha com velocidade. Não pode ser no fim, quando parou. Pega nela.)
- Não.
(...)
(Aquela rapariga pensa que és bonito. Observa-te o queixo quadrado, os lábios finos e o cabelo russo.)
- Não pensa nada. Eu sou feio.
(Pensa sim. Consigo vê-lo. És lindo. És um pão. E sabes que mais?)
- O quê?
(Vai-te achar ainda mais belo se pegares na pedra.)
- ...
[Pausa.]
(Sim. Exacto. Vês? Sorriu! Sorriu-te! Caminha de volta ao Metro.)
- Não quero. Vou falar com ela.
(...)
- Vou dizer-lhe que é linda e pedir-lhe um cigarro.
(Faz isso depois. Ela espera por ti.)
- A sério?
(Vejo-a a pensar. Vai esperar. Diz-lhe que compreendes com um sorriso. Ela vai entender. E anda. Vamos entrar.)
- Eu já volto! Já volto!
Tirar o sentido ao poema é como tirar a alma ao homem!
Ok, ele não está a dizer isso, admito. Diz que há um sentido e que o leitor
é direccionado para lá - para o sentido que o poeta lhe quer dar,
impedindo que o leitor lhe dê o seu.
(O que eu acho errado - e impossível. Por mais setas que
apontem o caminho no poema - é por ali, criatura, é por ali! - o leitor
vai sempre construir o seu caminho dentro do poema -
aliás, nem tem escolha.) Cada vivência humana é diferente e
tem sentidos múltiplos. Nós fazemos o quadro (poema, escultura, filme)
quando o estamos a ver. Acho difícil obrigar o leitor/espectador
a ver, a ler o sentido que o autor quis dar de início à obra que partilha.
" Longe da segurança de ser levado pela mão o leitor entrará, finalmente, no domínio da interpretação."
Mas qual, a do autor? Que o guia? Isso não é um bocado como ser ditador do sentido?
A liberdade para interpretar supera o sentido direccionado.
Palavras, só palavras, que se lixe a substância?
Palavras bonitas que não dizem nada?
E pode-se fazer isso porque é poesia?
Não concordo. É trabalhar no vazio. É fazer o poema trabalhar no vazio. Estar a correr parado, no mesmo sítio.
Cada vez mais penso que as palavras servem aquilo que se quer dizer, seja em narrativa, seja em pooética.
São o meio para.
Palavras bonitas não servem para nada. É um desfile de moda?
As próprias palavras que usamos traduzem, em parte, os nossos pensamentos.
Vamos eliminar os pensamentos e ficar apenas com as palavras?
Porque são bonitas e as ideias estão ali a mais, na cabecinha. As ideias não servem para nada.
Tudo bem, a poesia é outra coisa. Mas eu gosto de poemas que me digam algo - não basta serem uma escultura de belas palavras.
domingo, março 05, 2006
Pedi mais vida e pago o preço. Fico
Mordendo a cinza das horas radiantes.
Sonhos? Fulgor? Ao nada, ao pó dedico
Os pedaços de gestos triunfantes.
De palhaço despir o fato rico
É forçoso a quem por falsos diamantes
Expia a lenda de subir ao pico
De enfatuadas famas. Vigilantes
São os fados. Pedir mais vida? Ó sede
Enganosa! A vida é que nos pede
O dever de morrer iniludível.
O futuro? O passado? És só presente.
Não peças mais e delicadamente
Passa entre os abismos impassível.
Natália Correia (1990). "Na câmara de reflexão onde a simulação é um crime". In Poesia completa (2000). Lisboa: D. Quixote.
(fonte)
sábado, março 04, 2006
Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
( curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
Que favor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever.
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer.
Natália Correia
A Defesa do Poeta
Direcção de Edição
Helena Roseta com o apoio de David Ferreira
Cd editado pela Valentim de Carvalho
bday
outro sem
Outro Sem [sen]
Faltam três mil peles de pano de antanho
Com que segurar o cabresto
O cabresto do ranho
Mil, três mil, peles de pano Peles de pano
Eram três as viúvas com calos nos pés
Que vinham a salgar a língua
Andando sem canga
Três mil viúvas cabriteiras
(De peles de pano)
Três mil viúvas de antanho
A tagarelar a senha
Que abriu portas do castelo
Vedou a boca
E adoçou a língua
3 Março06
sexta-feira, março 03, 2006
Your Expression Number is 5 |
A total multi-tasker, you have a wide variety of talents. You're very versatile and able to change at a drop of a hat. A free spirit, you crave change and adventure. Clever and quick witted, you can convince anyone of anything. You can do anything you desire... though this sometimes gets you in trouble! Very popular, you're always thinking up new ways to entertain and amuse your friends. Your restless and impatient attitude means you don't stay with projects for long. You tend to be erratic and scattered - it's hard for you to focus. You often find yourself in a state of flux with constantly changing interests. |