[Da série: porque é que eu não consigo escrever assim? Porquê?]
Pedi mais vida e pago o preço. Fico
Mordendo a cinza das horas radiantes.
Sonhos? Fulgor? Ao nada, ao pó dedico
Os pedaços de gestos triunfantes.
De palhaço despir o fato rico
É forçoso a quem por falsos diamantes
Expia a lenda de subir ao pico
De enfatuadas famas. Vigilantes
São os fados. Pedir mais vida? Ó sede
Enganosa! A vida é que nos pede
O dever de morrer iniludível.
O futuro? O passado? És só presente.
Não peças mais e delicadamente
Passa entre os abismos impassível.
Natália Correia (1990). "Na câmara de reflexão onde a simulação é um crime". In Poesia completa (2000). Lisboa: D. Quixote.
(fonte)
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