domingo, março 19, 2006

Anunciação

Poesia é uma anunciação, a anunciação da nossa alma inascida ou já nascida, plena, vital; é um dizer por imagens e metáforas de algo mais, algo acima de nós, ou escondido no reduto mais obscuro no interior de nós.
É a anunciação de algo acima - mas presente, presente de outra maneira, uma espécie de imaterialidade material, ou uma realidade física que não se pode tocar.
A poesia serve para brincarmos com as palavras ou para nos desnudarmos mercê das palavras. Não sou poeta por isso não sei muito bem o que é a poesia, ela de vez em quando "acontece-me", "aparece". Não posso correr atrás dela porque assim nunca nunca a apanho - tem pernas maiores que as minhas. Tem risos maiores do que os meus.
É subjectiva - tanto a construção do poema como a sua leitura por outro. Há três poemas que foram feitos: um quando o poeta o escreve, outro quando o lê e outro ainda quando um estranho lê esse mesmo poema. A multiplicidade de olhares vive no poema e na pessoa que o lê (e pode lê-lo hoje ou daqui a vinte anos; tanto hoje como daqui a vinte anos são dois poemas diferentes que são lidos). Se um milhão de pessoas lê um poema - um milhão de poemas são construídos ali, de imediato. Tão materiais como o conceito "nuvem" - mas que escapam à materialidade do corpóreo.
Mas eu não percebo nada disto. Estou deste lado, sou a "leitora", não produzo poesia. O meu não é um olhar crítico, analítico, mas o olhar do prazer sensorial.

(Feito para este desafio do Escreva! Participem.)

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